Page 65 - Revista SPORL - Vol 59. Nº2
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na outra, ambas estão protetizadas. Foi diagnosticada   reabilitadas precocemente com PA, não desenvolveram
          Síndrome  de  Usher  tipo  1  a  uma  criança  com  HSGP   oralidade e os pais optaram por suspender a terapia da
          bilateral;  a  implantação  coclear  bilateral  sequencial   fala. Foram identificadas outras síndromes que podem
          (aos  3  e  5  anos),  antes  do  diagnóstico  das  alterações   cursar  com  hipoacusia,  nomeadamente  Síndrome  de
          oftalmológicas, permitiu otimizar o prognóstico global   Coffin-Siris, KBG, Distrofia Fáscio Escapulo Umeral em
          do  doente.  Encontra-se  com  ótimos  ganhos  tonais   crianças com HSN ligeira a moderada.
          e  boa  evolução  da  linguagem  (LTM  26dB,  MAIS  40,   Verificámos que as crianças com alterações nos genes
          MUSS 40). Foi identificada mutação em homozigotia no   que  codificam  as  conexinas  foram  o  grupo  etiológico
          gene ADGRV1, associada a Síndrome de Usher tipo 2,   com melhores ganhos auditivos (p=0,57) e linguísticos
          noutro doente que se manifestou com HSN congénita   (p=0,19)  com  a  reabilitação,  apesar  da  ausência  de
          moderada a grave.                                 significado estatístico (Figura 1 e 2).
          Cinco crianças com HSGP congénita com características
          muito  peculiares  (heterocromia  da  íris,  anomalia  da   FIGURA 2
          pigmentação  cutânea  e  mancha  branca  no  cabelo),  e   Desenvolvimento da linguagem e da fala com a reabilitação
          três delas com doença de Hirschsprung, foram avaliadas   auditiva                                        ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE
          e detetaram-se variantes patogénicas nos genes PAX3
          (Síndrome de Waardenburg tipo 1), MITF (SW tipo 2A) e
          EDNRB (SW tipo 4A). Estas crianças têm pelo menos um
          familiar direto com a mesma síndrome e no foro familiar
          predomina  a  LGP.  Verificámos  que  em  dois  casos  os
          familiares não pretenderam qualquer tipo de RA e num
          caso, em que a criança não estava a ter ganhos funcionais
          com a PA, nem aquisição de linguagem verbal, os pais
          recusaram  o  IC.  As  restantes  crianças  encontram-se
          reabilitadas, uma com PA, com ótimos ganhos tonais e
          oralidade adequada à idade (LTM 25dB, MAIS 40, MUSS
          40)  e  outra  com  IC  também  com  bom  desempenho
          auditivo e comunicativo (LTM 25dB; 100% discriminação
          a 50dB). Em duas crianças com HSGP congénita, com
          coloboma, atrésia choanal e atraso do desenvolvimento
          psicomotor, os estudos genéticos confirmaram mutação
          no  gene  CHD7  que  causa  Síndrome  de  CHARGE.
          Identificámos ainda, numa criança com HSGP congénita
          e  atraso  global  de  desenvolvimento  psicomotor,  a
          presença de microdeleção 1p36. Apesar de terem sido

          FIGURA 1
          Limiar tonal médio com a reabilitação auditiva




                                                            DISCUSSÃO
                                                            Estima-se que 70% da perda auditiva de causa genética
                                                            seja  não  sindrómica  e  associada  a  um  padrão  de
                                                            transmissão autossómico recessivo (80%), autossómico
                                                            dominante  (15%)  ou  ligado  ao  X  (1%).   Na  população
                                                                                             3
                                                            caucasiana,  cerca  de  metade  das  crianças  afetadas
                                                            por surdez genética não sindrómica AR apresenta uma
                                                            mutação  nos  genes  GJB2  e/ou  GJB6  que  codificam,
                                                            respetivamente,  a  conexina  26  e  conexina  30.   Na
                                                                                                      1
                                                            nossa  amostra,  a  causa  genética  não  sindrómica  foi
                                                            responsável  por  apenas  42%  dos  casos  de  surdez  de
                                                            causa  genética  e  destes,  76%  foi  por  mutações  nos
                                                            genes  GJB2  e  GJB6.  Possivelmente,  houve  casos  de
                                                            surdez genética que não foram identificados, foi pedido
                                                            o NGS a 36 (28%) doentes, porque apenas desde 2015
                                                            se instituiu, de forma sistemática, o recurso à técnica


                                                                                       VOL 59 . Nº2 . JUNHO 2021 143
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