Page 64 - Revista SPORL - Vol 59. Nº2
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TABELA 4
Variantes patogénicas e provavelmente patogénicas nos genes MYO15A, TRIOBP, OTOGL e CABP2
n
DFNB3 MYO15A c.10054G>C (p.(Ala3352Pro)) + c.8050T>C (p.(Tyr2684His)) + c.3640C>T (p.(Arg1214Trp)) 1
DFNB28 TRIOBP c.2988C>A (p.(Tyr996*)) em homozigotia 3
DFNB84 OTOGL c.1462C>T (p.(Arg488*))+ c.1913G>A (p.(Trp638*)) 1
DFNB93 CABP2 c.608T>C (p.(Ile203Thr)) e c.655+1G>T (p.?) 1
TABELA 5
Variantes de significado indeterminado nos genes MYO1C, EYA4, MYH14, TECTA e MYO7A
n
MYO1C c.1786C>T (p.(Arg596Trp)) em heterozigotia 1
EYA4 c.1341-3del (p.?) em heterozigotia 1
MYH14 c.4980G>T (p.(Glu1660Asp)) em heterozigotia 1
TECTA c.2969T>G (p.(Phe990Cys)) em heterozigotia 1
MYO7A c.6236 G>A (p.(Arg2079Gln)) em heterozigotia 1
variantes potencialmente relevantes nos genes MYO1C, Foram detetados casos de hipoacusia não sindrómica
EYA4, MYH14, TECTA e MYO7A que, embora classificadas de transmissão autossómica recessiva (AR) associados
como variantes de significado indeterminado, parecem a HSN pré-lingual estável por variantes patogénicas
explicar o fenótipo (Tabela 5). no gene OTOGL (que se manifestou com grau ligeiro a
A hipoacusia associada aos genes GJB2 e GJB6 foi moderado), no gene CABP2 (grau moderado a grave) e
tipicamente sensorioneural, congénita, bilateral e não nos genes MYO15A e TRIOBP (grau grave a profundo)
progressiva e variou de ligeira a profunda. No entanto, (Tabela 4). Foi instituído tratamento precoce com PA
a perda auditiva de início tardio também foi observada e duas crianças com HSGP, com mutações no gene
nas crianças com as seguintes variantes: c.-23+1G>A + MYO15A e TRIOBP, sem ganho funcional suficiente
c.617A>G; c.35delG + c.101T>C; c.94C>T homozigotia. com amplificação foram implantadas com IC. A média
Verificámos que 83% (5/6) das crianças com o genótipo dos limiares auditivos com a RA é de 35dB. Verificámos
35delG/35delG apresentaram hipoacusia sensorioneural que os três irmãos com mutação no gene TRIOBP foram
grave a profunda (HSGP) enquanto que apenas 45% encaminhados para CRA tardiamente e apesar da
(5/11) das crianças com outras mutações no gene GJB2 estimulação auditiva e treino frequente com terapia da
apresentaram hipoacusia com essa gravidade. 50% (2/4) fala tem se verificado essencialmente o uso de leitura
das crianças com heterozigotia composta 35delG/não- labial e de língua gestual portuguesa (LGP).
35delG apresentava HSGP e 43% (3/7) das crianças com Foram identificadas duas crianças com Síndrome de
duas mutações não-35delG apresentaram HSGP. Os Perrault 2 com HSN com manifestação peri-lingual
resultados são sugestivos de haver correlação genótipo- pelos 3 anos de idade, tratando-se inicialmente de
fenótipo nas mutações do gene GJB2, no entanto, sem uma perda moderada mas que tem progredido e
significado estatístico (p=0,30). O presente estudo atualmente é grave. Ambas se encontram protetizadas
aponta para a relação entre doentes com mutações com bons ganhos tonais mas uma das crianças com
do gene GJB2 bialélicas truncantes que demonstraram dificuldades na aquisição de linguagem, mantém
graus mais graves de hipoacusia do que aqueles com seguimento em CRA em avaliação da candidatura a
mutações bialélicas não truncantes (p=0,13). Das 19 IC. Foi identificada uma criança portadora de mutação
crianças com hipoacusia não sindrómica por mutação no gene ATP6V0A4 com Acidose Tubular Renal que
nos genes que codificam as conexinas 26 e 30, 14 passou inicialmente no RANU mas, durante o período
encontram-se reabilitadas com prótese auditiva (PA) de aquisição de competências linguísticas pelos 3 anos,
bilateral e 5 com implante coclear (IC) bilateral com bons manifestou HSN grave que evoluiu posteriormente para
ganhos tonais (limiar tonal médio com a reabilitação profunda. Encontra-se implantada bilateralmente e,
(LTM): 31dB); 77% das crianças tiveram um bom atualmente, com 10 anos de idade cronológica e 5 anos
desenvolvimento da linguagem com o treino auditivo- após ativação do IC, encontra-se com bons limiares
verbal. Verificámos ainda que, das 5 crianças com IC, auditivos (LTM 33dB) e boa evolução da linguagem
os melhores resultados na aquisição e compreensão (GASP 10, MAIS 40, MUSS 37). Na nossa amostra, foi
da fala e da linguagem foram obtidos nas que foram diagnosticado Síndrome de Pendred a duas crianças
operadas nos dois primeiros anos de vida (p=0,10). com HSN congénita, moderada numa criança e grave
142 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO