Page 54 - Revista SPORL - Vol 59. Nº2
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concomitantes (QRT) é atualmente a abordagem TABELA 1
padrão para o tratamento de doentes com CECCP em Características demográficas da amostra
estadio avançado que ultrapassaram a viabilidade
do tratamento cirúrgico. O trabalho de Forastiere et al. CARACTERÍSTICAS
concluiu que esquemas de preservação de órgão N 41
que incluem radioterapia com adição concomitante Idade 59,5
de cisplatina se revelam superiores a esquemas de
quimioterapia de indução seguidos de radioterapia, Género (M/F) 90,2%/ 9,8%
ou radioterapia como tratamento isolado. Apesar de LOCALIZAÇÃO
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tratamento adequado, 30-50% dos doentes apresentam Orofaringe 20
recidiva tumoral, na maioria dos casos nos primeiros HPV + 2
12 meses após tratamento. Estudos em doentes com
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CECCP em estadio avançado tratados apenas com HPV - 3
radioterapia (RT) concluíram que doentes N1 com Sem status HPV definido 15
resposta completa não beneficiam de esvaziamento Hipofaringe 12
ganglionar cervical (EGC); no entanto, doentes N1 Laringe 6
com resposta incompleta ou doentes inicialmente Cavidade Oral 1
estadiados N2-N3 (independentemente da resposta ao
tratamento) beneficiam de tratamento cirúrgico, dado o Seios Perinasais 1
aumento na taxa de controlo de doença regional que o Outros 1
esvaziamento ganglionar cervical (EGC) acrescenta. Ao ESTADIO TNM
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contrário de doentes tratados com RT em monoterapia, III 2
a gestão cervical de doentes tratados com QRT de
doentes inicialmente diagnosticados em estadio IV A 29
avançado gera controvérsia, com diferentes grupos de IV B 10
trabalho a endossar abordagens distintas. Uma vez que DOSE TOTAL DE RADIAÇÃO
a sobrevida média de doentes com CECCP com falência > 60 Gy 39
de controlo locoregional nos primeiros 3 anos após
tratamento é em média inferior a 12 meses, e tendo </= 60 Gy 2
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em conta a morbilidade adicional que um EGC impõe, é FALÊNCIA ATÉ 12 MESES
essencial distinguir clinicamente que casos particulares Falência locoregional 16
beneficiariam de tratamento cirúrgico pós QRT. CIRURGIA DE RESGATE
A distorção tecidular imposta pela radioterapia EGC 7 (16,7%)
dificulta a interpretação dos resultados dos exames
imagiológicos convencionais. Dada a insuficiente
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precisão da tomografia computorizada (TC) e resposta. Indivíduos com história anterior de CECCP e
ressonância magnética (RM), a PET emergiu como submetidos a terapêuticas oncológicas prévias foram
um importante meio complementar de avaliação da excluídos da amostra. No caso de tratamento de
resposta locoregional pós QRT. No entanto, relatos doentes com CECCP em estadios avançados, a PET/
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descrevem a baixa sensibilidade na deteção de nódulos CT foi solicitada sempre que necessário esclarecer
linfáticos com tamanho inferior a 5 mm, o que impõe alterações imagiológicas em TC ou quando a observação
limitações no estudo pós tratamento. O objetivo deste clínica não foi concordante com a imagiologia (não foi
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trabalho é avaliar, na casuística do IPO de Coimbra, a considerado necessário realizar PET se a TC evidenciou
adequabilidade da PET/CT na aferição da resposta inequivocamente persistência ou progressão tumoral).
regional ao tratamento, ou seja, a sua capacidade O follow-up clínico e imagiológico mínimo para inclusão
preditiva de ausência de células tumorais viáveis nas no estudo foi de 18 meses (doentes que faleceram ao
adenopatias irradiadas, excluindo a necessidade de EGC longo do seguimento foram mantidos). Um total de
pós QRT com segurança. 41 doentes compõe a amostra (tabela 1). Os locais
primários incluem orofaringe, hipofaringe, laringe,
MÉTODOS cavidade oral e seios perinasais. Doentes com CEC
Seleção Amostra em adenopatias cervicais com primário oculto foram
Análise retrospetiva dos registos clínicos de doentes incluídos no estudo. O estadiamento inicial foi realizado
portadores de CECCP tratados entre Janeiro de 2016 com base na 7ª edição da AJCC.
e Junho de 2018 no IPO de Coimbra, propostos para
realização de QT/RT concomitante, com intenção Tratamento
curativa, que realizaram PET/CT nas 18 semanas que A escolha do tratamento foi realizada em reunião
sucederam o final do tratamento, para avaliação da multidisciplinar pela Equipa de Decisão Terapêutica
132 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO