Page 14 - Revista SPORL - Vol 58. Nº1
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de não ter existido associação significativa com a recidiva  cirurgia e o CEC metácrono ocorre no local de um PIN
tumoral, este é um fator que deve ser considerado no         benigno prévio.1 Uma revisão dos resultados histológicos
planeamento cirúrgico.24                                     descritos na literatura, reporta atipia em 1.1%, displasia
As abordagens externas ou combinadas mantém                  em 1.9%, carcinoma in situ em 3.4%, CEC síncrono em
indicação perante determinadas características. Na           7.1% e CEC metácrono em 3.6%.3
presença de hiperpneumatização do seio frontal e PIN         O tempo de follow-up mínimo recomendado é de 3 a 5
com extensão à parede lateral, o retalho osteoplástico       anos, mas alguns autores preconizam maior tempo de
permite melhor controlo da doença. Se ocorrer                seguimento com base na presença de recidivas tardias e
extensão ou implantação do PIN às paredes lateral,           no risco de desenvolvimento de carcinoma metácrono.3
inferior ou anterior do seio maxilar, pode ser necessário    Apesar da maioria das recidivas ter sido diagnosticada até
complementar a via endoscópica com antrostomia               aos 3 anos de follow-up (71.4%), verificaram-se até 5 anos
maxilar anterior.24 As abordagens externas também estão      após a intervenção cirúrgica. Um estudo que incluiu 578
indicadas na presença de extensão extra-sinusal, quando      PIN, dividiu os doentes com base em tempo de follow-up
existe neoplasia maligna associada ou na presença de         inferior ou superior a 3 anos, e demonstrou que o grupo
estenose óssea do ducto frontonasal.9                        com maior tempo de seguimento apresentou maior
A classificação de Krouse é o método de estadiamento         taxa de recidiva (26,1% vs. 8,5%; p<0.05).23 Para além
mais usado e tem por base o grau de extensão e a             disso, os carcinomas metácronos ocorrem tardiamente
presença de neoplasia maligna concomitante.14 No             com autores a descreverem o seu aparecimento 3 a 13
presente estudo, a avaliação da distribuição dos doentes     anos após o tratamento primário3. Com base nestes
com recidiva pela classificação de Krouse evidenciou         pressupostos, na nossa opinião, o tempo de seguimento
uma taxa de recidiva superior no grupo de doentes em         deve ser o mais prolongado possível e o exame
estadio avançado (III-IV) comparativamente aos estadios      endoscópico deve ser complementado por RMN sempre
precoces (I-II) (62.5% vs. 21.4%, p = 0.05). Este grupo de   que existirem duvidas diagnósticas. Muitos autores
doentes apresentou um risco relativo de recidiva superior    avaliam os doentes a cada 3-4 meses no primeiro ano, a
(OR 10, p=0.029). Outros autores reportaram resultados       cada 4-6 meses no segundo ano e posteriormente a cada
semelhantes.3,20 Uma metanálise evidenciou aumento           6 – 12 meses.2
significativo do risco de recidiva em 51% dos PIN em         Este estudo tem algumas limitações. Trata-se de um
estadio III comparativamente ao estadio II (OR=1.51,         estudo retrospetivo, com um tamanho amostral reduzido,
1.09-2.09).25 Contudo, outros estudos não encontraram        no qual foram incluídas abordagens cirúrgicas por vários
relação entre o estadio de Krouse e a recidiva.7 Esta        cirurgiões com diferente experiência cirúrgica.
variação pode ser explicada pela heterogeneidade dos
tumores no estadio III de Krouse, que inclui tumores         CONCLUSÃO
com diferente prognóstico.25 Neste estadio são incluídas     O PIN é um tumor benigno com tratamento cirúrgico
neoplasias que envolvem a parede posterior do seio           que apresenta elevada taxa de recidiva. O estadiamento
maxilar de mais fácil acesso comparativamente a              de Krouse avançado relacionou-se com a recidiva. A
tumores com extensão à parede lateral do seio frontal        abordagem cirúrgica deve ser escolhida de acordo com
com maior dificuldade técnica.25                             a localização e extensão do tumoral. Para tumores
Um estudo, avaliou o subgrupo de doentes em estadio          em estadios precoces (Krouse I e II) a abordagem
III e obteve menor taxa de recidiva com abordagens           endoscópica é o tratamento de eleição. Para tumores em
externas (midfacial degloving 11.1%, rinotomia lateral       estadios avançados (Krouse III e IV) deve ser ponderada
25.0%) comparativamente às endoscópicas (33.3%).21 A         a associação de uma abordagem externa, sempre que a
CENS é considerada a abordagem de eleição para PIN           localização da lesão não permita controlo endoscópico
em estádios precoces (I-II) e para casos selecionados        para exérese completa da neoplasia. Recomenda-se um
no estadio III.21 A taxa de recidiva de 31.8% obtida no      follow-up prolongado, uma vez que as recidivas podem
nosso estudo, também pode estar relacionada com o uso        ser tardias e que existe risco de transformação maligna.
reduzido de abordagens endoscópicas extensas e/ou vias
combinadas na abordagem inicial de PIN estadio III de        Proteção de pessoas e animais
Krouse.                                                      Os autores declaram que os procedimentos seguidos
A avaliação anatomopatológica é essencial para               estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos
estabelecer o diagnóstico definitivo e excluir alterações    pelos responsáveis da Comissão de Investigação Clínica
histológicas que podem variar desde atipia até CEC           e Ética e de acordo com a Declaração de Helsínquia da
invasor. No nosso estudo verificámos taxa de displasia       Associação Médica Mundial.
de 9% e não houve transformação maligna. Tal como
documentado por outros autores, a presença de displasia      Confidencialidade dos dados
não se associou a maior taxa de recidiva.3 Estão descritas   Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu
taxas de transformação maligna entre 0% a 53%.1 O            centro de trabalho na publicação dos dados de doentes.
CEC síncrono ocorre em doentes sem história prévia de

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