Page 24 - Revista SPORL - Vol 57. Nº4
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cirúrgico em doentes candidatos a rinosseptoplastia, de proposto por Stewart MG em 2004 e traduzido e validado
forma a poder ser utilizado universalmente no seu formato para Português em 20107,8.
original ou adaptado a cada situação em particular.
Inspecção Externa
MATERIAL E MÉTODOS A Análise Estética e Funcional Pré-Operatória propriamente
A elaboração do presente protocolo tem por base uma dita inicia-se pela Inspecção Externa. Tendo em conta a
revisão bibliográfica não sistemática de artigos científicos sua localização central, representando a unidade estética
de análise estética facial, discussão interpessoal sobre o facial mais proeminente, o nariz detém importância
tema e descrição da metodologia utilizada na instituição maioritária na análise estética global da face. Dois
na avaliação de doentes submetidos a rinosseptoplastia. esquemas incluídos no protocolo permitem a avaliação
Os documentos apresentados foram construídos de da simetria e harmonia faciais em respeito aos planos
forma a poderem ser preenchidos, armazenados e verticais e horizontais de divisão do rosto; os primeiros
consultados tanto em formato físico em papel como dividem-no em 5 áreas, considerando a equidistância
digital em computadores ou tablets. O protocolo pode ser da largura da base narinária, a distância intercantal e o
reproduzido individualmente para cada doente e inclui comprimento da fenda palpebral, e os últimos em 3 áreas,
gráficos e esquemas que permitem o desenho directo pelo cujas linhas limitantes transseccionam, respectivamente,
cirurgião em qualquer uma destas plataformas. o trichion (correspondente à linha do cabelo), o
nasion (correspondente à glabela), o ponto subnasale
RESULTADOS (correspondente à inserção da columela) e o pogonion
A avaliação estética de um doente potencialmente (correspondente ao ponto mediano de maior projecção do
candidato a rinosseptoplastia deve focar-se em toda a mento)9. Nesta sequência, propomos ainda a medição do
face e evitar uma análise dirigida ao nariz isoladamente. comprimento (nasion-ponta), altura (nasion-subnasale)
Apesar deste processo se iniciar de imediato com a e largura nasais, bem como dos graus estimados dos
entrada do doente no consultório, a sua avaliação formal principais ângulos a este nível: nasofrontal (~115-135º)
deve ser realizada de forma completa, sistemática e e nasolabial (homem~90-95º; mulher~95-105º)10. O
cuidadosa ao longo da consulta. Os autores apresentam, esquema permite, ainda, a representação das linhas
sequencialmente, o Protocolo de Análise Estética e estéticas dorsais de Sheen (“brow-tip lines”), que devem
Funcional Pré-Operatória (Figura 1) e o documento de apresentar uma curvatura harmoniosa no seu trajecto
Registo Operatório (Figuras 2 e 3) propostos. ao longo do supracílio, nasion, dorso e ponta nasais11. A
posição, tamanho e forma de outras unidades anatómicas
Protocolo de Análise Estética e Funcional Pré-Operatória da face, que devem integrar-se em harmonia com o nariz –
das quais são exemplo a maxila, mandíbula, lábios e região
Folha de Rosto frontal – também poderá ser registada. A análise destas
O Protocolo de Análise Estética e Funcional Pré-Operatória estruturas vizinhas é essencial, uma vez que dismorfias ao
proposto inicia-se, na sua folha de rosto, pelo registo de seu nível, como sejam as sobre- ou sub-projecções frontais
informação clínica relevante, designadamente identificação ou do mento, influenciam ilusoriamente a aparência
do médico responsável, dados demográficos do doente nasal12. Por fim, tendo em conta a sua contribuição para
(incluindo a sua etnia, a considerar pela integração e a planificação pré-operatória, processo de cicatrização,
respeito dos traços étnicos nasais na restante face), hábitos camuflagem de irregularidades e resultado estético,
(como o consumo de tabaco, álcool ou outras substâncias, deverão registar-se as características e qualidade da pele
de primordial importância no processo de cicatrização) e do doente, especificando por zonas se necessário.6
antecedentes médico-cirúrgicos, que devem especificar A inspecção externa do dorso nasal pode subdividir-se,
traumatismos prévios, cirurgias nasais anteriores, patologia estrategicamente, na vista frontal e na vista de perfil.
inflamatória e/ou alérgica nasosinusal associada, abuso de Neste sentido, é importante relembrar que este se
descongestionantes nasais, bem como coagulopatias ou divide, na sua extensão, em três terços: no terço superior,
psicopatologias conhecidas6. Em complemento ao registo correspondente ao esqueleto ósseo; no terço médio,
clínico no processo base do doente, esta primeira página correspondente às cartilagens triangulares e septo dorsal;
poderá ainda registar a queixa principal, motivações e e no terço inferior, correspondente às cartilagens alares
expectativas e a sintomatologia funcional do doente, e septo caudal. No plano frontal, podem observar-se
designadamente a existência de obstrução nasal crónica diferentes laterodesvios/laterorrinias em termos de vector
(duração e lateralidade), rinorreia e suas características, e natureza (completos unilaterais, em C, em S, cartilagíneos
epistáxis, dor facial/nasal ou alterações do olfacto3. Por isolados, entre outros) e/ou deformidades (open-roof,
fim, de forma a documentar de forma subjectiva o impacto V-invertido, selas), bem como registar a sua largura e
da obstrução nasal na qualidade de vida do doente no simetria. A análise de simetria tem por base um traço
último mês, propomos que no final desta página se avalie recto imaginário que intercepta na linha média a glabela
a pontuação, de 0 a 100, em resposta ao questionário e o mento, devendo o dorso e a ponta nasais, idealmente,
NOSE – Nasal Obstruction and Symptoms Evaluation Scale, coincidir com estes pontos9. A avaliação de perfil distingue
154 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO

