Page 45 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 55 Nº2
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frequentes  na  população  deste  estudo.  Na  maioria   compromisso associado da via aérea com necessidade
          destes doentes, o diagnóstico de mediastinite fez-se por   de  traqueotomia.  Naqueles  doentes  com  idade
          TC de controlo. Estes doentes passaram por Unidades   avançada,  etiologia  dentária,  afetação  de  múltiplos
          de  Cuidados  Intensivos,  necessitaram  de  ventilação   espaços  cervicais,  dispneia  e  tumefação  cervical  à
          mecânica  invasiva  e  traqueotomia.  Morreram  por   apresentação, deverá ser dirigida uma especial atenção,
          choque  séptico  3  dos  9  doentes  que  desenvolveram   dado  que  estes  foram  identificados  como  fatores
          mediastinite.  Os restantes 6 recuperaram após ATB ev   preditivos independentes de complicação. A redução da
          e  após  drenagem  cirúrgica  (toracotomia).  Apesar  do   mortalidade verificada nos últimos 7 anos pode estar
          maior número de doentes com complicações no estudo   relacionada  com  a  disponibilidade  de  antibióticos  de
          atual,  a  mortalidade  atingida  nesta  série  foi  metade   mais largo espectro e com a evolução das técnicas de
          da  ocorrida  na  anterior  (1.3%  vs  2.6%).  Esta  redução   diagnóstico.
          estará  essencialmente  associada  à  implementação  de
          antibióticos  de  mais  largo  espectro  e  à  melhoria  das   Protecção de pessoas e animais
          técnicas de diagnóstico de imagem.                Os  autores  declaram  que  os  procedimentos  seguidos
          A taxa de remissão e cura dos doentes (98,7%), e o tempo   estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos      ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE
          médio  de  internamento  (10  dias)  foram  semelhantes   pelos responsáveis da Comissão de Investigação Clínica
                       11
          aos da literatura . De notar, que este último, aumentou   e Ética e de acordo com a Declaração de Helsínquia da
          para 31.2 dias, quando surgiram complicações.     Associação Médica Mundial.
          Apesar do elevado número de estudos no campo das
          infeções  cervicais  profundas,  poucos  foram  aqueles   Confidencialidade dos dados
          que utilizaram modelos estatísticos multivariados para   Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro
          avaliar potenciais fatores prognósticos de complicações   de trabalho acerca da publicação dos dados de doentes.
                                        24
          desta patologia. Liu e colaboradores , investigaram em
          170 doentes com ICP, o papel da idade (>55 anos) e PCR   Conflito de interesses
          pré-operatória (>15 mg/dL) no risco de terem alta. Estes   Os  autores  declaram  não  ter  nenhum  confito  de
          verificaram  que  ambos  eram  fatores  independentes   interesses relativamente ao presente artigo.
          para  o  risco  de  alta.  No  presente  estudo,  os  doentes
          com idade avançada apresentarem maior risco de não   Fontes de financiamento
          terem  alta  (p=0.03;  HRa  0.987;  95%  IC  0.978-0.996),   Não existiram fontes externas de financiamento para a
          dado não verificado para a PCR aumentada (p=0.292;   realização deste artigo.
          HRa  0.712;  95%  IC  0.378-1.339).  Boscolo-Rizzo  e
                     23
          colaboradores ,  analisaram  retrospetivamente  365   Referências Bibliográficas
                                                            1.Celavosky P, K.D., Tucek L, et al, Deep neck infections: risk factors for
          casos de ICP e aplicaram um modelo multivariado para   mediastinal extension. Eur Arch Otorhinolaryngol, 2013.
          analisar as variáveis que poderiam estar associadas com   2.Santos  Gorjón  P,  B.P.P.,  Morales  Martín  AC,  Del  Pozo  de  Dios  JC,
          o desenvolvimento de complicações. Verificaram que a   Estévez  Alonso  S,  Calle  de  la  Cabanillas  MI,  Deep  neck  infection.
                                                            Review of 286 cases. Acta Otorrinolaringol Esp, 2012. 63: p. 31-41.
          DM, o envolvimento de múltiplos espaços cervicais, a   3.Bakir S, T.M., Gun R, et al, Deep neck space infections: a retrospective
          temperatura corporal e a contagem de células brancas,   review of 173 cases. Am J Otolaryngol, 2012. 33: p. 56-63.
          foram  preditores  independentes  de  complicações.  Na   4.I, B., Microbiology and management of peritonsillar, retropharyngeal,
                                                            and  parapharyngeal  abscesses.  J  Oral  Maxillofac  Surg,  2004.  62:  p.
          presente  coorte  de  223  doentes  com  ICP,  apenas  o   1545-50.
          envolvimento de múltiplos espaços cervicais se manteve   5.Suehara  AB,  G.A.,  Alcadipant  FA,  Kavabata  NK,  et  al,  Infecções
          como  fator  prognóstico  significativo  de  complicações.   cervicais profundas: análise de 80 casos. Rev Bras Otorrinolaringol,
                                                            2008. 74: p. 253-9.
          Por  outro  lado,  a  origem  odontogénica,  a  presença   6.Wang LF, K.W., Tsai SM, et al, Characterizations of life-threatening
          de  dispneia  e  de  tumefação  cervical  à  apresentação,   deep cervical space infections: a review of 196 cases Am J Otolaryngol,
          demonstraram  predizer  de  forma  significativa  e   2003. 24: p. 111-7.
                                                            7.Chen MK, W.Y., Chang CC, Huang MT, Hsiao HC, Deep neck infections
          independente  um  internamento  mais  prolongado  na   in diabetic patients. Am J Otolaryngol, 2000. 21(3): p. 169-73.
          nossa série.                                      8.Huang TT, L.T., Chen PR, et al, Deep neck infection: analysis of 185
                                                            cases. Head Neck 2004. 26: p. 854-60.
                                                            9.GW,  L.,  Cervical  fascia  and  deep  neck  infections.  Laryngoscope,
          CONCLUSÃO                                         1970. 80: p. 409-35.
          Apesar  da  melhoria  das  condições  em  saúde,   10.Boscolo-Rizzo  P,  M.C.,  Montolli  F,  Vaglia  A,  et  al,  Deep  neck
          nomeadamente  higiene  oral  e  disponibilidade  de   infections: a constant challenge. J Otorhinolaryngol, 2006. 85: p. 259-
                                                            65.
          antibioterapia  de  largo  espectro  e,  da  evolução  nas   11.Eftekharian A, R.N., Vaezeafshar R, Narimani N, Deep neck infections:
          técnicas  diagnósticas,  as  ICP  continuam  a  ser  um   a retrospective review of 112 cases. Eur Arch Otorhinolaryngol, 2009.
          problema comum e de difícil abordagem. No presente   266(2): p. 273-7.
                                                            12.Parhiscar A, H.-E.G., Deep neck abscess: a retrospective review of
          estudo a patologia/manipulação dentárias mantiveram-  210 cases Ann Otol Rhinol Laryngol, 2001. 110: p. 1051-4.
          se como a principal causa de ICP e a grande maioria dos   13.Bottin R, M.G., Rinaldi R, et al, Deep Neck Infection: a present-day
          doentes necessitou de efetuar tratamento cirúrgico nas   complication.  A  retrospective  review  of  83  cases  (1998-2001).  Eur
                                                            Arch Otorhinolaryngol, 2003. 260: p. 576-9.
          primeiras 48 horas. A principal complicação consistiu no   14.Plaza  Mayor  G,  M.-S.M.J.,  Martinez-Vidal  A,  Is  conservative

                                                                                       VOL 55 . Nº2 . JUNHO 2017 107
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