Page 62 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 50 Nº1
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Caso Clínico A médica assistente da paciente já havia requisitado
A.R.F.L, paciente do sexo feminino, de 45 anos de idade, uma ecografia cervical que demonstrava na linha média,
empregada têxtil, natural e residente em Guimarães, uma estrutura ovóide hipoecóica, com cerca de 13 mm
referenciada à consulta externa de Otorrinolaringologia e com sinais de fluxo periférico; não se identificavam
(ORL) do Centro Hospitalar do Alto Ave devido a uma adenomegalias e a glândula tiróide não apresentava
massa cervical na linha média com 2 anos de evolução. alterações de relevo. Na consulta de ORL foi pedido um
A doente nega crescimento recente da lesão ou a estudo analítico que incluiu hemograma, bioquímica
existência de sinais inflamatórios prévios associados. (glicose, ionograma, função renal e transamínases)
Não apresenta sintomatologia local compressiva tal e estudo da função tiróideia. Todos os resultados se
como disfagia, dispneia ou disfonia e nega queixas apresentavam dentro dos limites da normalidade, à
álgicas, sintomatologia constitucional compatível com excepção dos valores de glicemia. A doente realizou
hiper/hipotiroidismo, febre, perda ponderal, astenia ou também uma Tomografia Computorizada cervical
anorexia. No que diz respeito a antecedentes pessoais, (Figura 2) em que se visualizava na linha média e num
trata-se de uma doente com diabetes mellitus tipo 2, plano infra-hióideu, uma lesão nodular de 15 mm
insuficiência venosa periférica, história de cirurgia de de diâmetro, hiperdensa após a administração de
correcção de síndrome do túnel cárpico e histerectomia contraste endovenoso, com região central hipodensa
total por mioma uterino submucoso. A medicação e com algumas calcificações na sua topografia; a
habitual consiste em gliclazida 30 mg, 2 comprimidos/ glândula tiróide apresentava pequenas nodularidades
dia. Sem antecedentes tabágicos ou alcoólicos hipodensas e não havia evidência de outras massas ou
relevantes. A doente nega ainda história de exposição a adenomegalias cervicais.
fontes de radiação ou outros carcinogéneos conhecidos
e história familiar/pessoal de patologia neoplásica. FIGURA 2
Tomografia computorizada cervical
Ao exame objectivo apresenta na palpação cervical
uma massa na linha média, localizando-se num plano
infra-hióideu, de cerca de 1,5 cm de maior diâmetro,
não dolorosa à palpação, de consistência fibroelástica,
contornos bem definidos, móvel com a deglutição
e protusão da língua. O restante exame de ORL não
apresenta alterações de relevo.
Colocaram-se várias hipóteses de diagnósticos
diferenciais de massas cervicais da linha média, por
ordem de probabilidade para o caso em estudo e que
estão descritas na Figura 1.
FIGURA 1
Diagnósticos diferenciais de massas cervicais da linha média
CONGÉNITAS
Quisto do canal tireoglosso
Tiróide ectópica
Quisto Dermóide
Laringocelo
NEOPLÁSTICAS BENIGNAS/MALIGNAS
Neoplasia da Tiróide
Metástase - Orofaringe/Laringe/Tiróide
Lipoma
Linfoma
Carcinoma do canal tireoglosso
INFLAMATÓRIAS
Adenite (bacteriana/vírica/granulomatosa)
60 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL

