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sido sujeito a totalização da laringectomia por recidiva local DISCUSSÃO
(tendo abandonado a consulta posteriormente, já com uma Demografia: Na presente série não houve registo de mulheres.
sobrevida de 73 meses após diagnóstico), 1 tinha um segundo A relação, entre homens e mulheres, na incidência de tumores
tumor primário (CPC da faringe) operável (mas que também da laringe na Região Sul de Portugal foi de 19:1 no biénio de
abandonou a consulta) e 1 estava em tratamento paliativo 1998-199913e de 24:1 no biénio 2000-200114, enquanto
para metástases pulmonares. outras séries de carcinomas da cabeça pescoço revelaram
Análise estatística: Utilizou-se o teste Exacto de Fisher para relações de prevalência entre homens e mulheres que variam
estudar a relação estatística entre diversas variáveis com entre 1,3:1 e 9,2:115.
um intervalo de confiança de 95%. Verificou-se a existência Hábitos tabágicos e de bebidas alcoólicas: A presente série
de associação estatisticamente significativa (1) entre a parece confirmar a associação já conhecida entre consumo
divergência do estadiamento T (clínico e anatomopatológico) de bebidas alcoólicas e tabaco e a prevalência de tumores do
e a necessidade de cirurgia alargada (p=0,033), (2) entre tracto aero-digestivo da cabeça e pescoço16, com 84,4% dos
a realização de cirurgia alargada e a permanência de SNG doentes a afirmarem serem fumadores à data do diagnóstico
(ou PEG) por mais de 90 dias (p=0,032) e ainda (3) entre a e 83,1% serem consumidores de bebidas alcoólicas. Não foi ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE
divergência do estadiamento cT e pT e a classificação no possível quantificar estes hábitos (em UMA e g/dia).
grupo que inclui pT3 e pT4 (p<0.0001). Não se verificou Estadiamento clínico e anatomopatológico: É conhecida a
associação estatisticamente significativa (1) entre cirurgia tendência dos tumores supraglóticos se apresentarem em
alargada e morte, (2) entre invasão das margens cirúrgicas e estádios mais avançados dado o aparecimento de sintomas
morte, (3) entre cirurgia alargada e permanência de cânula mais tardiamente. Na estatística do Memorial Sloan-Kettering
de traqueotomia > 15 dias e (4) entre pN+ e morte. A taxa Cancer Center 9% dos tumores supraglóticos apresentaram-se
de sobrevida estimada para o conjunto dos doentes desta no estádio I, 21% no estádio II, 34% no estádio III e 36% no
série calculada pelo método de Kaplan-Meier (figura 1) foi de estádio IV10. O presente estudo está de acordo com essa
89,7% aos 12 meses, 81,8% aos 24 meses, 77,2% aos 36 meses tendência com apenas 18,8% nos estádios I e II, 21,9% no
e 67,6% aos 60 meses (5 anos). A taxa de sobrevida estimada estádio III e 59,3% no estádio IV (A e B).
aos 5 anos para doentes em estádio IV foi de 66%, não tendo Cirurgia da laringe: Foram realizadas 734 laringectomias totais
significado o cálculo de sobrevida para os estádios I, II e III com os códigos ICD-9 30.3 (251 laringectomias completas)
pelo reduzido número de doentes. e 30.4 (483 laringectomias radicais) e 310 laringectomias
parciais com os códigos ICD-9 30.1 (7 hemilaringectomias),
FIGURA 1 30.21 (15 epiglotidectomias) e 30.29 (288 laringectomias
Gráfico de Kaplan-Meier de sobrevida total
(independentemente das causas de morte) com representação parciais) entre Janeiro de 2002 (início do registo informático
dos “drop-out” por perda para seguimento ou por tempo de no IPOLFG) e Dezembro de 2010 no Bloco central do IPOLFG.
seguimento inferior aos 60 meses.
Pelo método de regressão linear calculámos o número de
cirurgias em cada grupo para os anos 2000 e 2001, perfazendo
no total, no período em estudo (01-01-2000 a 31-12-2010),
829 laringectomias totais e 314 laringectomias parciais. As
laringectomias parciais calculadas corresponderam a 27.5%
do total de laringectomias calculadas (totais + parciais =
1143). As 32 LHS corresponderam a 10.2% (32/314) das
laringectomias parciais calculadas e a 2,8% do conjunto
das laringectomias totais e parciais calculadas (32/1143).
Calculámos ainda, pelos dados publicados por Hoffman et
al. , que a percentagem de laringectomias parciais (parciais
6
+ subtotais + hemilaringectomias) relativamente ao total de
laringectomias (totais + parciais) como primeiro tratamento
em tumores na laringe nos EUA, tenham sido: 25.9%
(1986), 23,0% (1991), 18,3% (1996) e 28,8% (2001). Estes
valores traduzem uma tendência decrescente nos EUA na
percentagem de laringectomias parciais entre 1986 e 1996
mas com inversão desta tendência em 2001. No IPOLFG
esta percentagem cresceu de 5,5% em 2002, para 23,4% em
2005, 31,5% em 2008 e 40,4% em 2010 demonstrando uma
utilização globalmente crescente de cirurgias parciais com
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