Page 43 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 50 Nº1
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Lesão inicial: Relativamente à lesão inicial, 28 dos tumores   (respectivamente 178, 253, 645 e 762 dias), a média de tempo
         (87,5%) envolviam a epiglote, 14 (43,8%) a valécula, 13   de canulação dos outros 27 (84,4%) foi de 16,1 dias.
         (40,6%) a prega ariepiglótica, 8 a prega faringolaringea,   Entubação  com  sonda  nasogástrica  (SNG)  e  gastrostomia
         6  a banda ventricular e 1 uma aritenóide (clinicamente o   percutânea endoscópica (PEG): O tempo médio de duração
         envolvimento desta aritenóide não era clinicamente avaliável   da SNG nos 22 doentes em que foi possível retirá-la (taxa de
         por estar coberto por lesão vegetante, só sendo apreciável   remoção de SNG = 68,8%) foi de 88,6 dias (min: 10; máx: 347;
         intra-operatoriamente).                            dp=84,6; mediana=61,5). Dos outros 10 doentes, 6 estavam
         Cirurgia: Das 32 LHS, 17 (53,1%) foram conservadoras (sem   vivos à data da última consulta (4 com PEG e 2 com SNG) e 4
         alargamentos), 11 (34,4%) foram alargadas à base da língua,   morreram (3 com PEG e 1 com SNG).
         2 com extensão à faringe, 1 com exérese de uma aritenóide e   Tratamento  complementar:  20  doentes  (62,5%)  receberam
         1 com extensão à faringe e exérese de uma aritenóide. Todas   RT adjuvante, 6 (18,8%) receberam quimio-radioterapia (QRT)
         as cirurgias foram acompanhadas de esvaziamento cervical   adjuvante, 2 realizaram RT neo-adjuvante, 3 não realizaram
         selectivo anterolateral (áreas II, III, IV) bilateral, excepto em   tratamento complementar e 1 dos doentes com indicação para
         2 doentes que realizaram tratamento com RT neo-adjuvante e   RT não compareceu aos tratamentos e deixou as consultas.      ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE
         receberam esvaziamento cervical anterolateral unilateral.  Os 3 doentes sem indicação para RT eram pN0 e sem invasão
         Estadiamento clínico e anatomopatológico: o estadiamento   de margens cirúrgicas (estando vivos no final do estudo sem
         clínico e anatomopatológico encontra-se na Tabela 1. O   evidencia de recidiva loco-regional, com um seguimento de
         estudo anatomopatológico das peças operatórias revelou   130, 86 e 47 meses e sem cânula e SNG ou PEG). Três doentes
         7 doentes (21,9%) com pescoço pN0 e 25 doentes (78,1%)   pN0, mas com invasão de margens cirúrgicas, realizaram RT
         pN+ (pN1, pN2 ou pN3). Revelou ainda 3 doentes (9,4%) pT1,   adjuvante.
         18 doentes (56,3%) pT2, 7 doentes (21,9%) pT3 e 4 doentes   Complicações pós-cirurgicas: Foram registadas as seguintes
         (12,5%) pT4a. Apenas 12 (37,5%) dos estadiamentos TNM   complicações durante o internamento pós-cirúrgico: 2
         clínicos iniciais coincidiram com os anatomopatológicos,   episódios de enfisema cervical, 2 episódios de aspiração
         estando na divergência quer um sub-estadiamento N   grave (com pneumonia posterior), 1 fistula linfática cervical
         em 11 casos (p.e. pescoços clinicamente negativos, mas   (com encerramento espontâneo), 1 hematoma cervical, 1
         anatomopatologicamente  positivos), quer  um  sobre-  hemorragia peri-traqueotomia, 1 infecção peri-traqueotomia
         estadiamento N em 6 casos (p.e. pescoços com massas   e 1 acidente vascular cerebral.
         palpáveis, mas sem evidencia de metástases linfáticas nas   Recidivas  e  segundos  tumores  primários: Observaram-se
         peças de esvaziamento). Observaram-se ainda 7 divergências   2  (6,3%) recidivas locais  e 3 (9,4%)  segundos tumores
         T por sub-estadiamento. Após avaliação anatomopatológica   primários (CPC da amígdala, CPC da faringe e carcinoma
         2 doentes (6,3%) foram classificados no estádio I, 4 (12,5%)   adenoescamoso do palato duro). Dos 2 doentes com recidiva
         no estádio II, 7 doentes (21,9%) no estádio III, 18 doentes no   local, um fez totalização da laringectomia (mas foi perdido
         estádio IVA (56,3%) e 1 no estádio IVB (3,1%).     para seguimento posteriormente) e o outro morreu com a
         Anatomopatologia: 29 (90,6%) dos doentes tiveram   recidiva local e metástase óssea. Dos 3 doentes com segundos
         diagnóstico de carcinoma pavimentocelular (CPC), 1 de   tumores primários 2 faleceram (CPC da amígdala e carcinoma
         carcinoma basalóide escamoso, 1 de carcinoma espinocelular   adenoescamoso do palato) e 1 deixou de responder aos
         e 1 de carcinoma linfoepitelial. Das 32 peças anatómicas do   contactos e foi perdido para seguimento.
         tumor 14 (43,8%) não tinham invasão das margens cirúrgicas   Metástases: Ao longo do seguimento detectaram-se
         (a mais de 5mm), 6 (18,8%) tinham invasão, 10 (31,3%) tinham   metástases à distancia em 4 doentes (2 com metástases
         margens com ≤ 3mm de segurança (das quais 4 com <1mm) e   pulmonares, 1 com metástase óssea e 1 com metástase
         2 tinham displasia grave nas margens.              mamária) tendo morrido 2 e estando vivos os outros 2 até à
         Internamento: a duração média do internamento após a   data da última consulta (com seguimento de 1184 e 259 dias).
         cirurgia foi de 14.9 dias (min: 6; máx: 25; dp=4,98)  Sobrevida e seguimento: O tempo de seguimento mínimo dos
         Traqueotomia: A todos os doentes foi retirada a cânula de   doentes vivos até à última consulta foi de 5 meses e o máximo
         traqueotomia, excepto a 1 (que morreu passados 4 meses).   de 130 (média: 42,1 meses). Até à data de realização do estudo
         Outro doente que tinha retirado a cânula ao 12º dia apresentou   8 doentes tinham morrido (6 dos quais de causas atribuídas ao
         recidiva local após mais de 5 anos do tratamento inicial tendo   tumor primário, 1 de causa relacionada com segundo tumor
         realizado laringectomia total. Considerando estes 2 doentes a   primário e 1 de causa desconhecida). A média da sobrevida
         taxa de descanulação foi de 93,8% (30/32). A duração média   dos doentes que faleceram foi de 25,6 meses (min: 4, máx:
         da cânula de traqueotomia foi de 73,32 dias (min: 6, máx:   63). Dos 24 doentes vivos na última consulta, 21 não tinham
         762, mediana=14) com um desvio padrão elevado (dp=176).   evidência de recidiva loco-regional (mas 3 abandonaram
         Excluindo os 4 doentes com traqueotomia mais prolongada   a consulta aos 25, 26 e 69 meses de seguimento), 1 tinha



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