Page 54 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 44. Nº4
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PREVAlÊNCIA DOS PROBlEMAS DE VOZ EM PROFESSORES DOS SEGUNDO E TERCEIRO CIClOS
DO ENSINO BÁSICO E DO ENSINO SECUNDÁRIO.
te relevantes para ser considerado um poten- frustração e 21% salientaram o facto desses pro-
cial factor de risco para a existência de prob- blemas interferirem na actividade pedagógica.
lemas de voz (p=0,008). Os resultados obtidos no presente estudo
O fumo quente do cigarro atinge todo o sis- apontam para uma realidade ainda mais pre-
tema respiratório, o tracto vocal e, principal- ocupante: 667% do grupo dos professores
mente, as pregas vocais, contribuindo para a referiu já ter sentido a necessidade de alterar
sua desidratação. os actividades, dentro do solo de aula, devido
Os hábitos tobágicos favorecem o envelhe- o problemas vocais.
cimento precoce dos estruturas laríngeos e o Para além disso, a necessidade de faltar às
aparecimento do pigarro e da tosse, podendo aulas foi apontada por 38A% do grupo dos
originar redução na altura tonal e diminuição professores.
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da intensidade vocaP· • Os problemas na voz podem existir na au-
Os resultados obtidos permitiram, ainda, sência de patologias laríngeas orgânicas, mas
verificar que 83,6% do grupo dos professores os comportamentos vocais podem contribuir para
não possui qualquer formação na área da téc- o aparecimento das mesmas.
nica vocal, o que poderá justificar o mau uso e Na avaliação laringoscópica de 256 pro-
o abuso vocais: 72,6% falavam alto, 42,5% fessores, com problemas de voz, Arnoux-Sindt
falavam depressa e 397% falavam muito. et o/. 22 concluíram que 34A% apresentavam
A generalizada ausência de formação dos patologia laríngeo e Le Huchee Allali 24 , num es-
professores, na área da voz, foi uma conclusão tudo com 73 casos, revelou que os professores
a que outros investigadores chegaram. apresentaram uma maior incidência de nódu-
Arnoux-Sindt et ol. 22 referem que 63A% dos los vocais.
professores não têm qualquer formação nesse Como outros estudos demonstraram, regis-
ãmbito. tou-se uma maior prevalência dos problemas
A maioria dos professores não possui conhe- de voz entre os professores dos 2Q e 3Q ciclos
cimentos sobre o processo de produção da voz do ensino básico e do ensino secundário do
ou sobre os princípios fundamentais para a que entre os sujeitos que exercem outras activi-
preservação da qualidade vocal. dades profissionais que não requerem a utiliza-
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Por este motivo, muitos têm dificuldade em ção profissional da voz · • • • •
reconhecer comportamentos de mau uso e de Nos E.U.A., 577% dos professores e
abuso vocais e os sintomas das perturbações 28,8% dos sujeitos de um grupo de controlo,
na voz 11 • constituído por pessoas que não usavam profis-
Um professor que sinta dores ou irritação na sionalmente a voz, foram identificados com
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garganta, tende a adoptar estratégias que per- problemas vocais •
petuam o esforço vocal, agravando os proble- No Brasil, 46% a 7 4,6% dos professores
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mas existentes , daí o pertinência de disciplinas apresentaram alterações vocais • , valores pró-
ligadas à área da técnica e da pedagogia vocal, ximos dos obtidos no presente estudo.
nos cursos de formação inicial de professores.
O impacto das perturbações vocais, na vida
profissional dos professores tem-se revelado no CONCLUSÕES
absentismo, na limitação de decisões e nas op-
ções profissionais. O grupo dos professores apresentou uma
Segundo Sapir, Keidar e Mathers-Schimdt 23 , maior prevalência dos problemas vocais do
9% dos professores referiram que os problemas que o grupo de controlo, constituído por
na voz são motivo para a existência de stress e sujeitos que não usam profissionalmente a voz.
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