Page 47 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 44. Nº1
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JOSÉ  CARLOS  NEVES, JULIAN  ROWE-JONES, JORGE MIGUÉIS, DIOGO DE  PAIVA





             Foi  informada  dos  riscos  de  voltar  a  usar   No entanto,  há autores que defendem o seu
          cartilagem,  pelo  que  se  optou  por um  enxerto   uso  se  houver  remissão  completa  da  doença,
          de Silastic®.                                      evitando  o  uso  de  enxertos  alogénicos  pela
             Utilizou-se uma  incisão vertical na  linha  mé-  possibilidade de reactivação de fenómenos de
          dia da columela (possível de observar nas foto-    vasculite.                      .
          grafias  do  pós-operatório)  introduzindo  o  en-    Nos 3  casos apresentados, só  foi  realizada
          xerto  numa  bolsa  sub-cutânea  no dorso nasal.   rinoplastia  de  aumento  após  a  remissão  com-
          (figura  3)                                        pleta da doença.
                                                                Em  duas pacientes utilizou-se cartilagem au-
                                                             ricular.
          DISCUSSÃO                                             Na 3º implantou-se Silastic®,  dada a  impos-
                                                             sibilidade  de  utilizar  cartilagem  por  falta  de
             A  vasculite de Wegener  tem  alta  especifici-  tecido  suporte  (ausência  de  mucosa  nasal)  o
          dade para as  vias  respiratórias superiores.      que condicionaria obrigatoriamente condrone-
             Uma  das  complicações  ORL  mais  graves,      crose.
          mas  cada  vez  menos  frequente,  é  o  nariz em     Não  nos  é  possível  tirar  ilacções  relativa-
          sela.                                              mente ao comportamento dos materiais que uti-
             O  desafio  da  reconstrução  continua  a  des-  lizámos  uma vez que o  tempo de controlo não
          pertar  grande  atenção,  sem  que  haja  ainda    é ainda suficiente.
          certezas quanto  ao tipo  de  abordagem  a  uti-      Os  resultados  a  curto-médio  prazo  são  sa-
          lizar e ao tipo de materiais a  implantar.         tisfatórios, sobretudo gratificantes para o  paci-
             No entanto, é opinião geral que se deve ser     ente.  Congdon  et  ai  apresenta  um  estudo  de
          o mais conservador possível, evitando uma dis-     vigilância  a  longo  prazo  com  13  pacientes
          secção alargada.                                   submetidos  a  rinoplastia  após  remissão  da
             Por  outro  lado,  a  própria dissecção  encon-  doença.
          tra-se dificultada pelos fenómenos inflamatórios      O  material  mais  vezes  utilizado  foi  cartila-
          e de fibrose que condicionam a  perda dos pla-     gem costal, com  um  sucesso  superior a  80%.
          nos cirúrgicos.
             Nos  casos  2  e  3,  realizou-se  uma  incisão
          vertical na linha média da columela, com  intro-   CONCLUSÃO
          dução do enxerto na  região dorsal nasal.
             Optou-se por este  abordagem pela  impossi-        O  nariz em  sela  resultante de uma vasculite
          bilidade de seguir um  plano cirúrgico,  dado o    de Wegener é um  desafio para o  rinologista .
          grau  de destruição cartilagíneo  e  presença  de     O  "Nariz  Perfeito''  é  para  já  uma  utopia,
          fibrose.                                           quer  pelas  dificuldades  cirúrgicas,  quer  pela
             No caso  1,  situação  menos  grave,  foi  pos-  retracção e rigidez de todas as  camadas celu-
          sível  realizar  uma  via  de  acesso  intercartila-  lares que condicionam  o aumento pretendido.
          gínea  para aplicação de técnicas de disfarce.        Estas  limitações  devem  ser  explicadas  ao
             Quanto ao tipo de enxerto a  utilizar, aceita-  pacientes,  evitando  que  estes  criem  falsas
          -se  que  o  uso  de cartilagem  pode prolongar o   espectativas.
          ciclo  de  necrose  cartilagíneo,  com  recidiva  e   A  grande preocupação do clínico deve ser,
          formação de novo nariz em  sela.                   antes  de  mais,  conseguir  um  diagnóstico  pre-
             A  utilização de cartilagem costal e sua  com-  coce  da  doença,  evitando  as  suas  complica-
          pleta  reabsorção em  3  anos  no caso estudo  3   ções  mais graves,  nomeadamente  o  nariz  em
          vem apoiar esta  teoria.                           sela.


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