Page 41 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 44. Nº1
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JOSÉ CARLOS NEVES, JULIAN ROWE- JONES, JORGE MIGUÉIS, DIOGO DE PAIVA
INTRODUÇÃO A columela, retraída, apresenta-se escondi-
da. Frequentemente observa-se um V invertido,
O termo nariz em se/a (NS) é utilizado para causado pela definição da abertura piriforme.
descrever um dorso nasal deprimido, por falta O compromisso funcional está directamente
de suporte, sobretudo no seu terço medio. relacionado com a gravidade das alterações.
Como foi reforçado por Murakami et ai "o De uma forma geral, estabelece-se uma vál-
nariz em sela não é uma entidade clínica mas vula obstrutiva.
sim um espectro de várias anomalias". A perfuração septal, muitas vezes associa-
Nos primeiros livros de otorrinolaringologia, da, causa também problemas de fluxo ventila-
2 tório.
foi quase sempre associado a sífilis congénita •
Os primeiros registos de nariz em sela da- De referir que o NS pode também reportar-
tam de há mais de 30 séculos e a primeira cor- -se ao terço superior do dorso nasal, porção
recção cirúrgica descrita conhecida data de óssea, situação rara e quase sempre resultado
800 AC(!) na Índia, que refere a realização de de displasia óssea ou traumatismo nasal ósseo.
um retalho cutâneo pediculado da fronte. Num estudo publicado por Foda HM et ai
O primeiro documento, precursor da era mo- em que fez uma revisão de 50 casos de rino-
derna da rinoplastia, atribui-se a John Orlando plastias secundárias, 44% apresentavam com-
Roe' s, 1887, "The Deformity termed 'Pug-Nose' promisso do terço médio, com um nariz em
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and it's correction by a simple operation 11 13 • sela .
Posteriormente vários cirurgiões descreveram A causa iatrogénica era a mais frequente.
novas técnicas correctoras, com o auge da
rinoplastia a ser atingido no século XX.
O objectivo destas técnicas não é só o da ETIOLOGIA
restauração estética, mas também a melhoria
da componente funcional, com a facilitação da As causas de NS podem ser congénitas ou
respiração nasal. adquiridas.
As alterações nasais provocadas pelo NS Várias alterações da morfologia nasal que
podem ser estéticas e funcionais. podem ser interpretadas como NS, podem não
Esteticamente, o que se torna mais evidente ser mais do que uma característica familiar ou
é a depressão do dorso cartilagíneo, sobretudo racial.
a partir do ângulo septal anterior. A grande maioria das causas adquiridas é
Além disso, na observação de perfil, tam- por trauma ou iatrogenicidade.
bém se observa uma supra-rotação, perda de As causas médicas são menos frequentes.
projecção da ponta e retração da columela, Neste trabalho interessam-nos as causas mé-
com a obtenção de um nariz curto. d icas (tabela 1) e particularmente a vasculite
O ângulo nasa-labial está aumentado, apro- de Wegener.
ximando-se, em situações extremas, dos 180°.
Por vezes, pode fazer-se uma falsa interpre-
tação da existência de uma bossa no dorso Vasculite de Wegener
nasal, que não é mais do que a diferença entre
o dorso ósseo em posição normal e o dorso A Vasculite de Wegener (VW) é uma patolo-
cartilagíneo afundado. gia multissistémica caracterizada por inflama-
Na vista de frente, observa-se um dorso ção granulomatosa necrotizante do sistema res-
alargado bem como uma ponta larga e com piratório, vasculite disseminada e glomerulone-
perda de definição. frite.
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