Page 59 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 62. Nº1
P. 59

Figura 1                                          clínicos), mas é necessário ter em conta que
          Distribuição dos doentes com AC bilateral por     foi realizado numa pequena ilha com uma
          presença ou ausência de comorbilidades
                                                            população de 250.000 habitantes.  No entanto,
                                                                                             6
                                                            os nossos resultados são sobreponíveis aos
                                                            de outros estudos. Os nossos resultados
                                                            são idênticos aos dos estudos alemão de
                                                            Van Schaik  et al e ao estudo multicêntrico
                                                            canadiano de Paradis J et al, que tem a maior
                                                            amostra estudada até agora (215 doentes).
                                                                                                        2,3
                                                            O sexo feminino foi também o mais afetado
                                                            (63.6% vs 59.6%-65.6%) e a percentagem de AC
                                                            unilateral do nosso estudo foi sobreponível
                                                            ao   estudo    alemão    (63,54%   vs   58%).
                                                                                                         3
                                                            Comparativamente ao estudo canadiano,
          Tabela 2                                          registou-se uma percentagem ligeiramente
          Idade (dias) dos doentes com AC bilateral no 1º   menor de AC mista (63,6%  vs  73,22%) e
          procedimento cirúrgico                            por outro lado uma relativamente maior
                                                            proporção de doentes com AC puramente
                   Caso                Idade (dias)
                                                            membranosa (18%  vs 10,5%).  Em  contraste,
                    H                      20
                                                            na nossa amostra, 91% dos doentes foram
                     I                     6                submetidos a cirurgia endoscópica transnasal,
                     J                     6                enquanto que no estudo multicêntrico do
                    K                      3                Canadá, essa percentagem diminui para 32%.   2
                                                            Até à data, não existe nenhum tratamento
          atrésica foi removida com o uso de micropunch     cirúrgico  considerado  como  gold  standard,
          de  Kerrison, exceto  num  doente em que foi      havendo várias técnicas descritas possíveis. A
                                                                                                       4,7
          utilizada broca diamantada e foi realizada        cirurgia transnasal foi preferida à abordagem
          excisão da parte posterior do vómer. Foram        transpalatina devido ao menor risco de lesão
          utilizados  stents de  Nelaton  em todos os       iatrogénica que leva a fibrose pós-operatória
                                       
          doentes, que ficaram in situ por 6 a 8 semanas.   e re-estenose.  Outros fatores são aos avanços
                                                                          4
          Todos os doentes necessitaram reintervenção       na instrumentação endoscópica, ao menor
          cirúrgica  -  o  número  médio  de  intervenções   risco de alterações dentárias e de crescimento
          cirúrgicas necessárias em cada doente foi de      facial relatados na literatura.  A utilização de
                                                                                         8
          3  (2  a  5).  Assim,  O  número  de  reintervenções   stent também teve distribuição semelhante
          cirúrgicas necessárias foi maior no grupo         entre o nosso estudo e a literatura supracitada
          bilateral quando comparado ao grupo da atresia    (81% vs 70%). A utilização destes dispositivos
                                                                         2,3
          unilateral (1,29 vs 3,  p-value=0,024). Este facto   é ainda controversa, visto que é conhecida por
          deveu-se à necessidade de revisão cirúrgica e     minimizar o risco de reestenose, mas pode
          troca do stent para um maior ou para remover o    também levar a infeção, alterações cicatriciais
          stent definitivamente. Além disso, num caso de    (especialmente  septo,  cartilagens  alares  e
          revisão de atresia bilateral, foi realizada dilatação   columela) e granulação com a possibilidade
          por balão das neocoanas, após a remoção dos       de re-estenose.  Há assim maior risco nas
                                                                            4
          stents. Nenhuma recidiva foi observada durante    crianças, principalmente nos recém-nascidos
          o seguimento.                                     e nos casos de AC bilateral. No nosso estudo,
                                                                                       4
                                                            apesar de ter havido uma maior proporção
          Discussão                                         de uso de  stents em relação ao estudo de
          Uma grande limitação do nosso estudo é a          Paradis et al, houve uma menor necessidade
          pequena amostra que obtivemos (11 casos           de  reintervenções  cirúrgicas  (45%  vs 49%).
                                                                                                         2


                                                                                     Volume 62 . Nº1 . Março 2024 59
   54   55   56   57   58   59   60   61   62   63   64