Page 90 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 60. Nº4
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uso da voz nos idosos que condicione menor otorrinolaringológica, sendo que 61.20%
fonotrauma . As neoplasias da cabeça e pescoço dos doentes teve alta. Como esperado, um
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são o sexto cancro mais comum no mundo, número significativo de doentes idosos
afetando os idosos de forma desproporcional, diagnosticados com RFL, pólipo das cordas
com a prevalência de neoplasias laríngeas vocais, alterações da motilidade e edema
a atingir o seu pico entre a sétima e oitava de Reinke teve pelo menos uma consulta
décadas de vida, independentemente do subsequente, com a maior taxa de altas a ser
género 17,18 . Isto é particularmente importante encontrada nos doentes com Presbilaringe
quando consideramos as alterações laríngeas (84.62%). Este facto deverá, eventualmente,
nas quais o tabaco atua como principal fazer com que os otorrinolaringologistas
fator de risco encontradas neste estudo, reavaliam a forma de acompanhamento dos
nomeadamente o Edema de Reinke e a doentes com Presbifonia e Presbilaringe,
Leucoplasia 19,20 . Mantendo-se o uso do tabaco mudando-se o paradigma destas alterações
como principal fator de risco para as neoplasias como inevitáveis no envelhecimento sem
da laringe, idosos com hábitos tabágicos têm abordagens terapêuticas adequadas. Assim,
maior risco de desenvolver neoplasia laríngea, devem ser aplicados questionários de auto-
com a leucoplasia a revelar um maior risco de avaliação para melhor perceber a perspetiva
cancro laríngeo com o avançar da idade . A do doente, bem como o seu status clínico,
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percentagem de doentes com disfonia nos de forma a oferecer um plano terapêutico
quais a laringoscopia foi considerada normal adequado. O tratamento eficaz da Presbifonia
é também relevante. Apesar de a laringe requer uma abordagem multidisciplinar e
representar o órgão central da fonação, o protocolo de reabilitação atual apresenta
o envelhecimento afeta outros sistemas tipicamente a terapia da fala como primeira
envolvidos na criação e modolação da voz, linha de tratamento 21,22,23 . Quando um
nomeadamente os sistemas respiratório indivíduo com Presbifonia não atinge um
e neurológico, com um elevado número progresso satisfatório através de terapia da fala,
de doenças a associar-se a disfonia, com a intervenções médicas ou cirúrgicas poderão
existência de multimorbilidade a associar-se ser oferecidas para otimizar o encerramento
negativamente com alterações vocais, tendo glótico . Assim, consultas subsequentes
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um terço dos casos múltiplas causas . No podem ser necessárias para re-avaliação
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presente estudo, a principal co-existência de podendo, no futuro, diminuir a taxa de altas
sintomas foi encontrada entre os sintomas após a primeira avaliação em doentes com
faringolaríngeos e os sintomas nasais e, Presbilaringe. Este estudo apresenta algumas
interferindo a patologia nasossinusal com limitações. Primeiramente, é um estudo
o processo de fonação, é possível que os retrospetivo conduzido num único centro,
sintomas nasais levem a disfonia sem sendo que fatores de risco para disfonia, como
alterações laríngeas evidentes. Apesar de ser co-morbilidades e medicação, não foram
de interesse relacionar a disfonia e sintomas avaliados.
nasais específicos, estes achados corroboram Em segundo lugar, a avaliação laringoscópica
a disfonia no idoso como uma entidade foi realizada por diferentes profissionais,
multifatorial. Outra possível explicação para havendo inevitavelmente impacto nos achados
esta percentagem é a falta de critérios de laringoscópicos, ainda que as gravações das
diagnóstico para Presbilaringe, como explicado diferentes avaliações laringoscópicas tenham
acima, o que pode levar à consideração dos sido avaliadas pelos autores. Apesar disto, o
achados laringoscópicos como normais. O presente estudo é o primeiro a determinar
terceiro objetivo do estudo foi determinar a prevalência de disfonia nos doentes
qual o acompanhamento dos doentes idosos idosos referenciados dos cuidados de saúde
com disfonia após uma primeira avaliação primários à consulta de otorrinolaringologia,
362 Revista Portuguesa de Otorrinolaringologia - Cirurgia de Cabeça e Pescoço

