Page 41 - Revista SPORL - Vol 58. Nº1
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FIGURA 4 hominivorax, associada à miíase facultativa e traumática. CASO CLÍNICO CASE REPORT
Fixação de fraturas da mandíbula Bhardwaj e Singh (2010) descrevem que a maioria
dos casos descritos na literatura era secundária à
FIGURA 5 condição anatômica, como extração dentária, paciente
Radiografia PA de Mandíbula desnutrido e fraturas negligenciadas, paralisia cerebral,
respiração bucal, mordida aberta anterior, cancrum oris,
FIGURA 6 falta de higiene bucal, ventilação mecânica, ferida de
Vigésimo quinto dia do pós-operatório traqueostomia, paciente sob radioterapia, pessoas que
vivem nas proximidades de animais, paciente debilitado
DISCUSSÃO com negligência da equipe de custódia. Em cabeça e
O termo miíase foi introduzido no meio científico por pescoço, a miíase geralmente afeta indivíduos com maus
William Hope em 1840 para referir-se à invasão de hábitos de higiene, usuários de drogas e indivíduos com
tecidos por larvas dípteras. As moscas podem depositar distúrbios neurológicos e psicossociais.11
mais de 500 ovos por vez, diretamente sobre o tecido. Dessa maneira, desde a conceituação ao maior
Os ovos eclodem em menos de 1 semana e o ciclo de esclarecimento acerca do mecanismo fisiopatológico
vida é concluído em cerca de 2 semanas.5,10 No Brasil, a de instalação das larvas, diversas foram as maneiras de
miíase é comumente associada à espécie Cochliomyia tratamentos das lesões acometidas discutidas no meio
científico. Como não existe protocolo padrão para o
tratamento da miíase, diferentes terapias são adotadas.
Muitas substâncias já foram utilizadas no tratamento de
miiíase, tais como: clorofórmio, éter, cânfora e solução
alcoólica em associação com tabaco e hipoclorito de
sódio.12,13
A literatura demonstra uma maior taxa de sucesso na
remoção com uma sequência lógica no tratamento:
remoção das larvas na superfície com auxílio de
substâncias tópicas irritantes ou não, como vaselina,
clorofórmio, éter, iodofórmio ou outros agentes oclusivos,
os quais promovem hipóxia das larvas e o aparecimento
das larvas na superfície para melhor remoção, seguida
da utilização de ivermectina e posterior desbridamento
conjuntamente à lavagem com soro fisiológico 0,9%.
A ivermectina é um agente semi-sintético antiparasitário
de amplo espectro com atividade contra ectoparasitas
e endoparasitas com tropismo cutâneo (Strongyloides
stercoralis, Ancylostoma braziliense, Cochliomyia
hominivora, Dermatobia hominis Wuchereria bancrofti,
Brugia malayi, Onchocerca volvulus) da família dos
macrolídeos, é derivado da avermectina, obtida de
actinomicetos, bloqueia os impulsos nervosos nas
terminações nervosas dos endoparasitas, causando
paralisia e morte das larvas.11,13,14,15
O uso dessa medicação é datada no ano de 1998, sendo
usada anteriormente apenas no âmbito veterinário,
tornando-se o método mais difundido atualmente no
tratamento de miíase em cabeça e pescoço, além do
âmbito da otorrinolaringologia.15 É metabolizada no
fígado pela enzima P450 e excretada nas fezes e pelas
glândulas sebáceas. A ivermectina atua bloqueando
canais de cloro regulados pelo ácido gama-aminobutírico
(GABA), porém não é capaz de atingir e ultrapassar a
barreira hematencefálica nos mamíferos.15
A dose inicial é usada juntamente com antibióticos, sendo
administrada por via oral em apenas uma dose de 150–
200g/kg de peso corporal, sendo seu pico plasmático
atingido rapidamente. Os efeitos indesejáveis do
medicamento incluem erupções na pele, febre, tonturas,
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