Page 40 - Revista SPORL - Vol 58. Nº1
P. 40
se alimentam de tecido vivo, mais rara em humanos; a FIGURA 1
miíase secundária é causada pelas moscas necrobófagas Lesão cutânea pré-operatória
que se alimentam de tecido morto, que é o mais comum
e ocorre em pacientes com lesões necróticas.4 FIGURA 2
Ademais, a miíase também pode ser classificada de Larvas no local da lesão
acordo com a causalidade da interação entre larva e
hospedeiro: (1) miíase acidental, quando larvas ingeridas FIGURA 3
com alimentos produzem infecção; (2) miíase semi- Diérese e exposição de fraturas
específica, quando as larvas são colocadas em feridas; (3)
miíase obrigatória, quando as larvas afetam tecido vivo; e virtude do não conhecimento acerca da situação vacinal
(4) miíase facultativa, quando as larvas se proliferam em do paciente. Após a alta, foram prescritos dipirona,
tecido necrótico.5 As miíases são classificadas também nimesulida e cefalexina via oral, essa última, de 06 em 06
com base nos locais anatômicos: dérmica, cutânea, de horas durante 7 dias.
orifícios externos (auditivos, oculares, nasais, orais, entre O paciente evoluiu sem complicações, as fraturas
outros) e de órgãos internos.6 Outra classificação refere- foram bem consolidadas (Figura 5) e os tecidos moles
se à lesão: traumática (lesões abertas) ou furuncular apresentaram cicatrização adequada (Figura 6).
(lesões fechadas).7
Os locais de maiores incidências de casos de miíase em
cabeça e pescoço, são ouvidos, olhos, cavidade oral, nariz,
seios paranasais, linfonodos, região mastóidea e ferida
por traqueostomia.8 Existem fatores que predispõem
a miíase nessa região anatômica, tais como idade
avançada, baixo status socioeconômico e comorbidades
médicas, como histórico de trauma craniomaxilofacial e
tumores malignos.9
O tratamento dos casos clínicos de miíase seguem
comumente alguns passos: a administração de
substâncias tóxicas induzindo hipóxia localizada para as
larvas emergirem à superfície e desbridamento mecânico
ou cirúrgico. O presente estudo permite a análise da
conduta frente à miíase concomitante à caso de trauma
craniomaxilofacial.
DESCRIÇÃO DO CASO
Paciente de 32 anos, sexo masculino, admitido por
equipe de cirurgia e traumatologia, em decorrência de
agravamento clínico devido à acidente motociclístico
há 10 dias. Apresentava Escala de Coma Glasgow 15,
hemodinamicamente estável, com lesão em região
de corpo de mandíbula, predominante em hemiface
esquerda (Figura 1). Na lesão encontrava-se intensa
proliferação de larvas (Figura 2).
O paciente foi encaminhado ao bloco cirúrgico sob
anestesia geral, intubado por via nasal, sendo realizada a
administração de éter, as larvas foram coletadas e o tecido
da lesão foi desbridado e lavado com soro fisiológico
à 0,9%. Para remoção das larvas remanescentes, foi
administrada dose única de ivermectina (200 µg/Kg). As
fraturas foram fixadas por placas e parafusos de titânio
(Figuras 3 e 4).
No pós-operatório, o paciente foi mantido no hospital
durante três dias, com administração supervisionada de
medicações por via endovenosa, tais como ceftriaxona 1
g de 12 em 12 horas, dipirona 1 g de 06 em 06 horas,
dexametasona 4 mg de 6 em 6 horas e omeprazol 40
mg, uma vez ao dia. Foram administrados também
soro antitetânico (SAT) e vacina antitetânica (VAT), em
38 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO

