Page 45 - Revista SPORL - Vol 57. Nº4
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Artur Condé  Página do Colégio                                                                                         COLÉGIO DA ESPECIALIDADE DE ORL DA ORDEM DOS MÉDICOS
             da Especialidade de ORL
             da Ordem dos Médicos

             Colégio da especialidade e seu papel na dinamização do
             internato

O REINÍCIO                                                  pois o tempo e o incómodo, podem levar-nos a essa
                                                            atitude, aumentando o risco de um contágio que não
A diferença entre a insensatez e o voluntarismo             vai desaparecer brevemente, perdurará infelizmente
superficial é muito pequena, embora numa análise            por muito tempo. No entanto, temos que continuar
também superficial possa parecer enorme.                    a tratar todos os nossos doentes seguindo todos os
                                                            procedimentos que neste momento consensualmente
Tendo sido ultrapassada a chamada 1ª fase de                adoptamos como as melhores praticas para evitar
contingência desta pandemia, com os brilhantes              riscos. Normas com orientações muito restritivas no
resultados que conhecemos e que deixou o País tão bem       que diz respeito às indicações cirúrgicas ou ao exercício
colocado no ranking dos países Covid 19, estamos agora      de procedimentos diagnósticos no contexto desta
a iniciar uma nova fase neste processo que irá marcar       pandemia, se parecem ter um objectivo muito meritório
de forma indelével a vida social, politica e económica      poderão conduzir a um afunilamento perigoso da nossa
deste século . Com o reinicio da nossa actividade clinica,  especialidade, com evidente prejuízo para o seu futuro.
inundam-se as caixas de correio electrónico com normas,     Também no âmbito da formação específica, que em
“webinares”, recomendações, sugestões, guidelines           muitos serviços foi literalmente interrompida, temos
e outras tantas opiniões, de proveniências por vezes        que estudar soluções para que este interregno tenha
de duvidosa validade que nos aconselham ,como de            uma repercussão mínima no programa de formação dos
agora em diante, poderemos exercer a nossa profissão,       nossos médicos internos.
protegendo-nos e aos nossos doentes, do contágio deste
vírus, até que a descoberta de uma vacina milagrosa, nos    Agora, o seu percurso formativo que sofreu um
possa reconduzir ao nosso passado, mas ainda muito          importante percalço, desde logo com a paragem da
presente e saudoso “way of life”. É o reflexo do medo e     actividade assistencial em muitos serviços e a suspensão
desta ansiedade colectiva que se instalou, levando cada     de estágios, cursos e congressos, terá que ser retomado.
um numa atitude muito louvável, a querer dar o seu          É uma nova realidade com que estamos a lidar e que
contributo para a resolução desta crise sanitária. Temos    teremos que considerar, encontrando soluções que
observado vários tipos de atitude, os fundamentalistas      permitam de uma forma justa e equitativa, colmatar este
securitários, os indiferentes que a muito custo cumprem     hiato, evitando a criação de situações de desigualdade
as regras sanitárias básicas e os racionais, felizmente a   entre os médicos internos da especialidade.
grande maioria, que com sensatez, contribuíram para
que este problema se não transformasse numa tragédia        Cabe-nos neste momento, decidir com razoabilidade
colectiva de proporções inimagináveis.                      e bom senso o que fazer, para que estrategicamente
                                                            não nos condicionemos na área clinica, o que a não
Quanto ao exercício da nossa profissão, sabendo-se dos      acontecer, teria repercussões muito negativas para o
riscos inerentes a esta especialidade, e os cuidados a      futuro da nossa especialidade.
ter no futuro ao lidarmos com os nossos doentes, não
podemos facilitar aligeirando as regras de protecção,

                                                            VOL 57 . Nº4 . DEZEMBRO 2019 175
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