Page 10 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 49. Nº3
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FIGURA 3 doentes não obesos poderá justificar-se pela presença
Avaliação subjectiva a longo prazo dos resultados da UPPP. de colapso da via aérea a nível da hipofaringe. A falta
(questionário)
de métodos de avaliação pré-operatória do nível de
colapso, com significativo valor preditivo, justifica a
variabilidade dos resultados cirúrgicos encontrados.
Numa meta-análise, publicada por Sher et al, a taxa
de sucesso cirúrgico era de 40,8% em doentes não-
-selecionados.
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Durante o período de tempo incluído neste estudo, a
avaliação diagnóstica do local de obstrução baseou-se
no exame objectivo, particularmente na manobra de
Muller, sendo o Rx cefalométrico realizado sobretudo
em doentes com alterações craniofaciais. Actualmente
Cerca de 5,7% dos doentes tiveram insuficiência foi adicionada a classificação de Friedman ao protocolo
velofaríngea transitória e 2,9% referiram hipersecreção do serviço. Esta inclui a posição do palato, tamanho das
faríngea. Quanto à morbilidade tardia, avaliada pelo amígdalas, IMC e presença de alterações craniofaciais,
questionário, a queixa mais frequente foi a sensação permitindo, segundo os seus autores, um aumento da
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de corpo estranho faríngeo em 13% dos doentes e 9% taxa de sucesso cirúrgico da UPPP de 40 para 59,1%.
referiram alterações minor da voz ou deglutição. No entanto, a avaliação diagnóstica dos doentes com
Quando se perguntou aos doentes se a cirurgia tinha SAOS permanece um desafio. Estudos de imagem
sido recompensadora (se o doente conhecendo o e exame endoscópico durante o sono induzido são
benefício final obtido optaria novamente por ser utilizados para prever o local de obstrução, mas falta
operado), 64% responderam que sim, o que contrasta evidência de que aumentem significativamente o valor
claramente com a taxa de cura objectiva definida pelo preditivo do sucesso da UPPP. 17
IAH (33%). Neste estudo, o IAH, ou a gravidade da SAOS, não teve
valor preditivo estatisticamente significativo no sucesso
cirúrgico. Isto está de acordo com os resultados de
DISCUSSÃO
As principais limitações deste estudo são o número Friedman et al que encontraram uma taxa de sucesso de
reduzido de doentes e o facto de apenas 52% deles 26,7% para o SAOS ligeiro, 42,5% para o SAOS moderado
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terem repetido PSG após a intervenção cirúrgica. A taxa e 26,5% para o SAOS grave. Estes autores encontram
de sucesso variável e a possibilidade de necessidade uma melhor correlação do estadio anatómico com o
de tratamento complementar após UPPP, enfatizam sucesso cirúrgico (80,6% no estadio I; 37,9% no estadio
a necessidade de “follow-up” a longo prazo destes II e 8,1% no estadio III), concluindo, assim, que a
doentes com repetição do estudo poligráfico do sono . selecção dos doentes de acordo com as características
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Este facto tem sido considerado nos anos mais recentes anatómicas da via aérea superior seria mais importante
na avaliação dos doentes submetidos a UPPP em que a que a gravidade da SAOS. Considerando a variabilidade
avaliação pós-operatória com estudo do sono passou a do sucesso cirúrgico, o CPAP deverá ser o tratamento
ser realizada sistematicamente. de primeira linha nos doentes com IAH superior a 15
A taxa de sucesso (33,3%) apesar de baixa, está dentro eventos/hora. Esta modalidade terapêutica permite
da variabilidade descrita na literatura (31 a 82%). 9,11,12 reduzir significativamente a morbilidade associada
O conceito para o tratamento cirúrgico da SAOS baseia- à excessiva sonolência diurna, HTA e outras doenças
5,19
-se em melhorar a patência da via aérea superior cardiovasculares. A “compliance” é a principal
durante o sono, aumentando o seu diâmetro. A UPPP entrave ao sucesso do CPAP. Nos doentes com SAOS
pretende diminuir a obstrução a nível velofaríngeo. Em moderada a grave com recusa ou com má adesão ao
doentes obesos uma das principais razões para falha CPAP, a abordagem cirúrgica seleccionada de acordo
cirúrgica é, precisamente, o acúmulo de gordura em com o local de obstrução constituirá a principal
redor das paredes da orofaringe. O aumento de peso alternativa. O sucesso da UPPP poderá aproximar-se
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após cirurgia é apontado como uma das principais dos 80% nos doentes com estadio I de Friedman, sendo
causas de recidiva ou mesmo agravamento do SAOS. que a associação com cirurgia de avanço do genioglosso
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O IMC apresentou uma correlação significativa com o e/ou suspensão do hióide poderá permitir uma taxa de
IAH, salientando a importância do peso no agravamento sucesso próxima dos 74% nos doentes com obstrução
14,20
da SAOS e eventual insucesso cirúrgico. O insucesso em concomitante ao nível da hipofaringe.
136 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL

