Page 23 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 48. Nº3
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através do dreno mediastínico. Posteriormente, este
passou a drenar saliva pelo que a doente iniciou
hidroxizina e amitriptilina. Ao 5º dia de pós-operatório
foi retirado o dreno pleural posterior e a doente foi
extubada.
O exame cultural do pús do mediastino revelou a
presença de Ralstonia pickettii e Candida albicans.
Manteve-se a antibioterapia e iniciou-se fluconazol.
O dreno mediastínico continuou a drenar saliva mas em
quantidade decrescente e a doente foi transferida para
o Serviço de Otorrinolaringologia. Realizou testes com
azul de metileno para controlar a evolução da fístula e
nasofaringolaringoscopias com fibra óptica flexível.
Teve alta às 12 semanas de pós-operatório, assintomática
Figura 1 – Solução de continuidade ao nível do seio piriforme direito e referenciada às consultas de Otorrinolaringologia e CASO CLÍNICO CASE REPORT
com dissecção por ar do espaço pré-vertebral. de Cirurgia Cardiotorácica.
DISCUSSÃO
No caso clínico apresentado, a laceração do seio
piriforme não foi percebida pela equipa anestésica
apesar de ter sido uma entubação difícil, com múltiplas
tentativas e uso de estilete. Por outro lado, muitos
dos pacientes com perfurações faringoesofágicas após
entubação oro-traqueal (EOT) desenvolvem sintomas
no período pós-operatório que são mal interpretados
pela existência de outra patologia. Sinais e sintomas
como dor cervical, disfagia e enfisema subcutâneo, são
característicos e surgem precocemente, como no caso
relatado. 5
O seio piriforme é frequentemente o local da
Figura 2 – Colecção hidro-aérea pré-vertebral, condicionando desvio perfuração; a região do músculo cricofaríngeo e a
anterior da traqueia.
parede esofágica ao nível da sexta vértebra cervical são
também localizações frequentes. O espaço periesofágico
apresenta pressões subatmosféricas, pelo que as
perfurações rapidamente conduzem a contaminação
deste espaço através da saliva e alimentos. Para além
disto é pouco vascularizado e logo mais susceptível a
sepsis. É então importante que a terapêutica antibiótica
de largo espectro seja instituída o mais rápido possível,
diminuindo assim a probabilidade de contaminação.
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No caso apresentado optou-se inicialmente por um
tratamento médico conservador e drenagem apenas
do derrame pleural mas, pelo agravamento do estado
clínico da doente, foi necessário intervir com exploração
e drenagem do abcesso mediastínico.
Figura 3 – Abcesso mediastínico. A escolha entre tratamento conservador e tratamento
cirúrgico é controversa. No entanto, é aceite que
gem de loca subcarineal, colocação de dreno na loca o tratamento conservador pode ser considerado
mediastínica, colocação de dreno pleural anterior e quando o diagnóstico é precoce e a probabilidade
posterior e gastrostomia por laparotomia mediana. de contaminação baixa; noutras circunstâncias a
A evolução clínica foi favorável com resolução exploração cirúrgica e drenagem, com encerramento
praticamente completa do abcesso mediastínico. da perfuração se possível, é mais apropriada.
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Inicialmente verificou-se drenagem de material purulento
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