Page 67 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 44. Nº4
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REBELO, C.; FILIPE, J.; SUBTIL J.; BRANCO C.; BORGES DINIS, P .
se proceder à ressecção de tumores, sobretudo Wolfowitz e Solomon em 1972 propõem a
se benignos, com localização nos seios peri- utilização da abordagem endonasal para mar-
nasais, por esta técnica, de forma a reduzir a supialização de mucocelos do seio frontal.
morbilidade, complicações e alterações estéti- Esta filosofia tem progressivamente vindo a
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cas, resultantes de abordagens externas . tornar-se mais popular, devido à introdução da
Do mesmo modo se tenta preservar a fun- cirurgia endoscópica endonasal, em detrimen-
ção sinusal, com manutenção da integridade to de abordagens externas, com ou sem oblite-
6 ração do seio frontal, associadas a maior risco
da mucosa .
Vários autores têm demonstrado as vantagens de complicações.
da técnica cirúrgica endoscópica endonasal Vários trabalhos demonstram haver, após a
para resolução de patologia do seio frontal, drenagem cirúrgica do mucocelo, uma pro-
em comparação com abordagens externas gressiva reconstrução das paredes sinusais que,
7 8 anteriormente, sofreram lesões osteolíticas;
"clássicas " • .
Embora estudando grupos não totalmente possível devido à actividade osteoblástica do
comparáveis, há uma tendência no grupo cirúr- periósteo subjacente, e à estimulação trófico
gico em que foi usada a via endoscópica da mucosa, que foi deixada intacta, aquando
endonasal, para haver menos hemorragia, me- da marsupialização'.
nor tempo operatório, menor duração de hos- A realização duma técnica de lothrop, por
pitalização, e menor taxa de complicações via endoscópica endonasal, designada Draf III,
(como hematoma frontal epidural), embora permite, não só a marsupialização imediata do
esteja associada a um risco ligeiramente maior mucocelo, como manter, a um médio e possivel-
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de fístula de LCR . mente longo prazo (aspecto ainda não avalia-
Os mucocelos dos seios perinasais, sendo do), uma boa permeabilidade da abertura do
lesões benignas pseudoquísticas, têm um com- seio frontal para a fossa nasal; aspecto crítico,
portamento expansivo insidioso, cuja evolução uma vez que a estenose cicatricial desse ponto
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depende em grande parte das áreas vizinhas, correria o risco de uma recidiva do mucocelo •
que estão sujeitas a erosão. Draf preconiza específicamente este proce-
Pela proximidade da meninge, do cérebro, dimento no tratamento cirúrgico do mucocelo
da base do crânio, da órbita, do nervo óptico frontal.
e da carótida, não é raro que a evolução dos Será provavelmente, e à luz dos conhecimen-
mucocelos naso-sinusais, rapidamente, ponha tos actuais, a atitude cirúrgica mais defensável no
em risco a vida dos doentes. caso com as características que apresentamos.
Os mecanismos fisiopatológicos responsáveis Aspectos há, todavia, que merecem reflexão.
pelo seu aparecimento não são totalmente conhe- A técnica de Draf III, seguramente, deixa
cidos, mas pensa-se estarem relacionados com intacta a mucosa do interior da cavidade sinu-
inflamação da mucosa e obstrução de ostia, sal, e assegura uma abertura larga, que permi-
causando osteólise vizinha, induzida por pres- te uma ampla drenagem sinusal por um período
são. de tempo ainda não definido, mas consegue-o
O tratamento consiste na sua marsupializa- à custa do sacrifício da mucosa dos ostia natu-
ção cirúrgica. rais, aspecto que, de algum modo, poderá
A marsupialização de mucocelo sinusal foi, afectar as capacidades regenerativas das pa-
pela primeira vez, descrita por Howarth, em redes do mucocelo pós-marsupialização.
1921, que sublinhava a importância de se man- No presente caso clínico, há a acrescentar
ter intacta a mucosa do local de drenagem que a via de drenagem sinusal frontal deixada,
sinusal. encontra-se exactamente no ponto de ressecção
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