Page 38 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 54 Nº2
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um factor-chave no prognóstico das timpanoplastias crianças foi o tamanho da perfuração.
em crianças. Alguns autores defendem a realização Este estudo apresenta limitações importantes. Desde
da cirurgia em qualquer altura, outros sugerem que o logo a sua natureza retrospectiva e o pequeno tamanho
procedimento deve ser adiado até atingir determinada da amostra estudada que limitam a generalização
idade. No entanto, até a idade em que a cirurgia se das nossas conclusões. São necessários estudos com
torna recomendada é variável, existindo estudos que amostras maiores e de natureza prospectiva, bem
definem como cut-off os 4,7,8,10 ou 12 anos 3,5-7 . No nosso como uma uniformização na definição de sucesso desta
estudo não se verificou diferença estatisticamente cirurgia, de forma a uma avaliação mais consensual deste
significativa no sucesso anatómico e funcional entre os tema. Tendo em consideração que em estudos clínicos,
escalões etários estudados. mesmo nos prospectivos, é difícil controlar todos os
Uma vez que a membrana timpânica deve cicatrizar factores da criança submetida a timpanoplastia.
por segunda intenção, é de esperar que o tamanho
da perfuração possa influenciar os resultados da CONCLUSÃO
timpanoplastia. As perfurações maiores estão As conclusões deste estudo estão limitadas pelo
associadas a pior exposição cirúrgica de todo o rebordo pequeno tamanho da amostra. No entanto, permite-
da perfuração e a perfusão sanguínea do restante nos fazer uma análise retrospectiva dos resultados
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tímpano é menor . Esta influência é corroborada no nosso centro hospitalar e colocar hipóteses sobre
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por alguns autores. No estudo de Ribeiro JC, et al foi alguns factores que podem determinar o sucesso desta
verificada uma tendência para perfurações maiores cirurgia (tamanho da perfuração).
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terem piores resultados. Também Lee P, et al descreve Uma perfuração timpânica numa criança pode ter
uma relação estatisticamente significativa entre o diferentes implicações, tendo em conta o contexto em
tamanho da perfuração e o sucesso da cirurgia, estando que se insere. Cabe ao otorrinolaringologista a decisão
as perfurações maiores associadas a pior prognóstico. sobre a necessidade de tratamento cirúrgico, qual a
No presente estudo obteve-se menor sucesso idade ideal e quais os factores pré-operatórios que
anatómico e funcional nas perfurações maiores e esta podem influenciar o sucesso da intervenção. Tendo em
diferença foi estatisticamente significativa no sucesso conta os resultados deste estudo e estudos anteriores
funcional (p<0.05). parece-nos que a decisão sobre a necessidade de
No que diz respeito à localização da perfuração, intervenção cirúrgica deve ser individualizada uma vez
no nosso estudo, não foi observada diferença, que cada doente surge com uma combinação única de
com significado estatístico, quanto ao sucesso ou alterações anatómicas, comprometimento funcional,
insucesso cirúrgico. Apesar disso, todas as perfurações patologias associadas e expectativas que podem
posteriores encerraram (100% de sucesso anatómico) influenciar o resultado.
e se associaram a um gap aéro-ósseo pós-operatório <
20dB (100% de sucesso funcional), tal como observado Protecção de pessoas e animais
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no estudo de Ribeiro JC, et al . Esta observação Os autores declaram que os procedimentos seguidos
pode estar relacionada com o facto das perfurações estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos
anteriores serem tecnicamente mais difíceis de corrigir pelos responsáveis da Comissão de Investigação Clínica
(posicionamento mais difícil do enxerto) e da membrana e Ética e de acordo com a Declaração de Helsínquia da
timpânica apresentar uma menor vascularização na sua Associação Médica Mundial.
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porção anterior .
Se o ouvido contralateral for clinicamente normal, é Confidencialidade dos dados
expectável que a timpanoplastia no outro ouvido seja Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro
mais provavelmente bem sucedida . No nosso estudo de trabalho acerca da publicação dos dados de doentes.
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no entanto não se verificou uma diferença significativa
entre o sucesso em doentes com ouvido contralateral Conflito de interesses
normal ou com patologia, de acordo com resultados de Os autores declaram não ter nenhum confito de
outros estudos 1,7,10 . interesses relativamente ao presente artigo.
A adenoidectomia pode diminuir a incidência da
otite média com efusão e consequentemente, pode Fontes de financiamento
estar associada a menor incidência de recidiva da Não existiram fontes externas de financiamento para a
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perfuração . Neste estudo, apesar dos resultados realização deste artigo.
funcionais serem melhores nas crianças previamente
submetidas a adenoidectomia (75% vs 67%), a diferença Referências bibliográficas:
não foi significativa, de forma semelhante ao relatado 1.Collins WO, Telischi FF, Balkany TJ, Buchman CA. Pediatric
Tympanoplasty: Effect of contralateral ear status on outcomes. Arch
por outros autores . Otolaryngol Head Neck Surg. 2003;129(6):646-651.
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Neste estudo o único factor que mostrou uma relação 2.Geros S, Ribeiro D, Castro F, Robles R, et al. Timpanoplastia tipo I
significativa com o sucesso da timpanoplastia tipo I em pediátrica: definição de sucesso e factores que afectam o prognóstico.
108 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL

