Page 36 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 54 Nº2
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destes factores há estudos que o associam a um pior A análise estatística dos dados foi realizada recorrendo
prognóstico e estudos que não encontram qualquer ao programa SPSS Statistics, versão 20.0.
relação .
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A idade, como factor de prognóstico no sucesso deste RESULTADOS
procedimento, está relacionada com a maior incidência Foram analisadas 22 crianças, das quais 11 eram do
de infecções da via aérea superior (incluindo otites), a sexo feminino (50%) e 11 do sexo masculino (50%), com
menor maturidade da Trompa de Eustáquio, a menor idades à data da cirurgia compreendidas entre os 9 e
adesão aos cuidados pós-operatórios em idades os 17 anos (média de 12.96 ± 2.28 anos) – Figura 1. O
mais precoces e a possibilidade de encerramento tempo de seguimento variou entre os 12 e os 24 meses
espontâneo, existindo autores que são a favor de com uma média de 16.77± 7.11 meses.
protelar a intervenção até idades mais tardias 4,6,7,8 .
Por outro lado esta alteração pode estar associada a FIGURA 1
hipoacusia de condução ligeira a moderada em mais Distribuição etária
de 50% dos casos, o que justifica um impacto negativo
no desenvolvimento cognitivo e da linguagem destas
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crianças . Além disso, a restrição da entrada de água
no ouvido, o risco de reinfecções com progressão
da hipoacusia e a possibilidade de desenvolvimento
de colesteatoma ou outras complicações também
têm implicações negativas no crescimento e normal
desenvolvimento desta população, pelo que existem
autores a favor a intervenção cirúrgica mais precoce 1,2,8 .
O objectivo desde trabalho é avaliar os resultados
deste procedimento na população pediátrica do Centro
Hospitalar do Porto (CHP) bem como analisar alguns
factores referidos como potenciais determinantes no
seu sucesso.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo retrospectivo onde foram revistos
os processos clínicos de doentes pediátricos (< 18 anos)
submetidos a timpanoplastias tipo I primárias no CHP, Em todos os casos foi utilizada uma abordagem
no período entre Janeiro de 2013 e Janeiro de 2014. retroauricular e a técnica de colocação de fáscia
Obtiveram-se 22 casos para análise. temporal em underlay.
Foi definido como sucesso anatómico a confirmação do No total, obteve-se uma taxa de sucesso anatómico
encerramento da perfuração (integridade do retalho de 73% (n=16) e de sucesso funcional de 82% (n=18).
na última consulta de seguimento através de dados Ou seja, em dois casos apesar de não se verificar
do exame objectivo e/ou timpanometria). O sucesso encerramento da perfuração, verificou-se um gap aéro-
funcional foi definido como um gap aéro-ósseo no ósseo pós-operatório < 20dB. Também em 73% dos
pós-operatório < 20 dB (calculado através da média do casos (n=16) foi verificado um ganho de, pelo menos, 5
somatório das frequências entre os 500 Hz e os 3000 dB no SRT pós-operatório.
Hz), de acordo com as guidelines do Committee on As taxas de sucesso anatómico e funcional não foram
Hearing and Equilibrium para avaliação do tratamento significativamente diferentes entre os dois grupos
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da hipoacusia de condução . etários analisados (p>0.05) – Tabela 1.
Outras variáveis analisadas foram: a idade à data da Quanto às características da perfuração, obteve-se
cirurgia, sexo, tamanho da perfuração (superior ou menor sucesso anatómico e funcional nas perfurações
inferior a 50% da superfície total da MT), localização maiores (comparativamente às perfurações menores)
da perfuração (anterior, posterior e central), estado mas esta diferença apenas foi estatisticamente
do ouvido contralateral (presença de otorreia, efusão, significativa para o resultado funcional (p= 0.02). O lado
atelectasia, TVT ou perfuração da MT), realização de afectado não teve impacto significativo no resultado
cirurgia otorrinolaringológica prévia (adenoidectomia, cirúrgico. No que diz respeito à localização, todas as
colocação de TVT ou outra cirurgia otológica), técnica perfurações posteriores apresentaram encerramento e
cirúrgica utilizada, tempo de seguimento e níveis ganho funcional, apesar da relação entre a localização
auditivos pré e pós-operatórios (Speech Reception da perfuração e o sucesso anatómico e funcional não
Threshold - SRT e gap aéro-ósseo). No que diz respeito à ser significativa. – Tabela 2.
idade a amostra foi subdividida em dois grupos etários: Em 68% dos casos o ouvido contralateral apresentava
≤ 12 anos (n=10) e > 12 anos (n=12).
106 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL

