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posterior do seio frontal. Numa ocasião procedeu-se a A cirurgia decorreu sem complicações, o doente teve
internamento, para terapêutica sistémica antibiótica e alta ao fim de 24h, e o tamponamento realizado com
corticoide, devido a celulite orbitária e fleimão da face esponja auto-expansível envolvida por membrana
(fig. 2), com resolução do quadro clínico agudo. de látex hipoalergénico (para menor adesão à
mucosa e menor trauma) foi removido no 3º dia pós-
RESULTADOS operatório. O doente foi observado semanalmente em
Tendo em conta o diagnóstico de sinusite frontal consulta durante o primeiro mês, sendo feita remoção
crónica em doente com alterações anatómicas do osso endoscópica das crostas e observada boa cicatrização.
frontal (reconstruído cirurgicamente após fratura) Cerca de um ano depois, apresenta episódios de sinusite
a condicionarem obstrução da via de drenagem frontal com edema mucoso observável por endoscopia,
mucociliar, foi proposto tratamento cirúrgico. mas sem sintomas, sem irritação meníngea e com o
Foi então submetido a cirurgia endoscópica endonasal neo-ostium francamente permeável. Manteve sempre
com abertura dos seios frontais por técnica de Lothrop terapêutica com corticoide nasal. Na figura 4 observa-
Modificada (fig. 3). se o resultado endoscópico obtido no pós-operatório
imediato.
FIGURA 3
Aspeto no final da cirurgia: seios frontais em comunicação DISCUSSÃO CASO CLÍNICO CASE REPORT
entre si e com as fossas nasais através do neo-ostium criado.
Ampla abertura realizada (oliva da sonda de aspiração com 3 Como referido acima, existem várias opções cirúrgicas
mm de diâmetro) para o tratamento da sinusite frontal crónica refratária
ao tratamento médico. Para os autores, a técnica de
Lothrop modificada foi considerada a opção mais correta
pois garante a abertura de uma ampla e permeável via
de drenagem do seio frontal. Desta forma diminui-
se a probabilidade de extensão intracraniana, devido
à deiscência da tábua posterior, nas agudizações da
sinusite. Como se pode observar na figura 2, o doente
possui implantes no osso frontal (sem indicação para
serem removidos segundo parecer do neurocirurgião
assistente), local onde se depositam biofilmes que
perpetuam a doença crónica do seio frontal, pelo que
o objetivo terapêutico neste doente não poderia ser
resolver completamente a sinusite, mas sim garantir
que, sempre que haja agudização da sinusite, o seio
frontal drene diretamente para as fossas nasais, sem
sintomas e sem irritação meníngea, o que foi conseguido
com sucesso.
Pensa-se que em cerca de um terço dos casos de
traumatismo do seio frontal exista uma lesão do
FIGURA 4
Endoscopia endonasal realizada em consulta 3 semanas recesso frontal condicionando sinusite frontal. Estes
depois da cirurgia: boa cicatrização e neo-ostium permeável doentes apresentam uma sinusite com características
semelhantes à dos pacientes com sinusite frontal
persistente após cirurgia endoscópica conservadora,
nomeadamente cicatrização e osteoneogénese da via de
drenagem do seio frontal. Nestes casos existe indicação
3
para utilização da técnica de Lothrop modificada .
Esta técnica tem vindo a tornar-se o procedimento de
escolha, em detrimento da abordagem externa com
retalho osteoplástico que, apesar de anteriormente
ser considerada “gold standard” no tratamento
3,4
cirúrgico da sinusite frontal complicada , tem uma
taxa de insucesso de aproximadamente 10% a 15% e
está associada a maior morbilidade pós-operatória,
5
com complicações em 65,8% dos casos . Algumas das
complicações incluem alteração estética do contorno da
região frontal, edema orbitário, nevralgia supraorbitária,
complicações no local dador de tecido (ex.: infeção),
maiores perdas hemáticas, e problemas estéticos com a
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