Page 71 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 53 Nº1
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que cada um apresenta, sujeitando-se à avaliação dos A publicidade curricular de alguns médicos, que vemos
seus pares. Estes, exercendo um mandato colectivo da espalhada pelas nossas cidades, de braço dado com a
classe, classificam-no, elogiando ou criticando o seu propaganda política e o marketing de detergentes ou
conteúdo, a bem da competência que a nós exigimos, automóveis, diz tudo.
no exercício da profissão que desempenhamos.
Diz que deixamos de ter voz própria, que nos tornamos
E é por tudo isto, que o queremos dignificar, sentindo- indiferentes, que nos conseguem manipular, que nos
nos indignados, quando o vemos banalizado, com o equiparam a um qualquer produto de consumo e
desrespeito de quem o usa, de uma forma muito prosaica principalmente diz de uma forma bem clara, que nos
e pouco académica. O aviltamento da nobreza deste tiraram a liberdade de decidir.
documento, e do que ele representa, é demasiadamente
nefasto, para a imagem da nossa classe, que deveria Poderão argumentar, com teorias mais ou menos
tudo fazer, para preservar a dignidade do seu recato elaboradas, sobre o sacro santo direito do público à
profissional. informação, mas a verdade, é que neste processo, só se
procura uma coisa - Vender.
Obriga-nos o dever ético de publicitar, partilhar e
transmitir todo o nosso saber e experiencia aos nossos E vender a Medicina, pode sair-nos demasiadamente
pares, mas a mesma atitude, não se deve aplicar, caro!
quando se pretende passar essa mensagem aos nossos
doentes. É que ao fazê-lo, estamos de forma escondida, Das primeiras páginas dos jornais em parangonas
a apoucar profissionalmente todos os nossos colegas. sensacionalistas, para os escaparates das paragens de
autocarro, assim está publicamente exposta, a nossa
Esta reflexão que aqui deixo, não trás nada de novo e é classe, que paulatinamente se vai desagregando, ao
certamente consensual. Mas nos dias de hoje em que sabor dos interesses que nos cercam.
felizmente vivemos, com o conforto, o conhecimento
e a qualidade de vida com que nem sonhávamos há Parafraseando alguém..… apetece-me concluir dizendo,
algumas décadas atrás, banaliza-se frequentemente ….“Não havia necessidade”.
o que de importante possuímos, levados pacatamente,
por uma ausência perigosa de análise crítica, que quase
sempre evitamos, sossegando assim a nossa consciência. Boas Férias!
Os valores éticos do exercício profissional, os conceitos
morais do relacionamento social, a integridade e o culto
da exigência pessoal, são permanentemente torneados Artur Condé
á medida da conveniência e da prossecução de um fim, Presidente da Direcção do Colégio de Otorrinolaringologia
normalmente material, que tudo justifica e desculpa.
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