Page 33 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 51. Nº2
P. 33

ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE


















          DISCUSSÃO:                                        do início da deterioração renal. 11,12  A idade média de
          Neste estudo apenas foram considerados indivíduos   início da PA neste grupo estudado  foi de 15 anos. Por
          do sexo masculino com mutação patogénica do gene   este  motivo,  o  acompanhamento  da  PA  pode  ser  um
          COL4A5, associados ao cromossoma X, com o objectivo   factor  relevante  para  o  prognóstico  da  evolução  da
          de avaliar o perfil audiométrico. Esta mutação é a mais   doença renal nos doentes com SA.
          frequente na SA (85%) e a melhor caracterizada na   O  grau  de  perda  auditiva,  em  4  casos,  foi  moderado-
          bibliografia. 4,5,7,11                            grave (61-80dB) e em 3 casos moderado (41-60dB), com
          Apesar da hematúria ser descrita como a manifestação   atingimento  predominante  nas  frequências  agudas,
          mais  precoce, 11,12  alguns estudos referem que  a   entre os 2000hZ e os 8000hZ. Dois doentes (um com IRC
          perda  auditiva  neuro-sensorial  simétrica  é  um  dos   terminal e outro transplantado) negavam hipoacusia
          primeiros sintomas da SA, dado a microhematúria ser   subjectiva; no entanto, a avaliação audiométrica revelou
          habitualmente assintomática. 10,15   A PA neuro-sensorial   PA neuro-sensorial moderada. Mesmo os indivíduos
          nas  frequências  agudas  pode  ser  um  dos  sinais  mais   sem queixas subjectivas de hipoacusia devem realizar
          úteis no doente com hematúria, podendo sugerir o   avaliação audiológica, dado poderem apresentar
          diagnóstico de SA até na ausência de uma biópsia renal   alterações nas frequências agudas.
          ou de história familiar de doença renal. 10       Com o transplante renal o prognóstico destes doentes
          A biópsia renal pode ser difícil nos casos de falência renal,   mudou, aumentando a sua longevidade. Deste modo,
          ter resultados duvidosos nas crianças e nas mulheres   a investigação da evolução da PA e a sua reabilitação é
          e sobretudo ser muito dependente da experiência do   essencial para a melhoria da qualidade de vida destes
          patologista. 5,7,11   Dois doentes da amostra estudada não   doentes.  As  próteses  auditivas  devem  ser  propostas
          a realizaram.                                     precocemente,  em  regra  a  partir  dos  35dB  de  perda
          Na SA associada ao cromossoma X, o risco de progressão   auditiva,  para  prevenir  a  degradação  dos  centros
          para insuficiência renal terminal antes dos 40 anos de   auditivos. 12
          idade é de 90% no homem versus 12% na mulher. 11,12    No caso de crianças com hematúria inexplicada, de
          Analisando a idade em que os doentes da amostra foram   adolescentes ou de indivíduos de meia-idade do sexo
          submetidos  a  transplante  renal  (média  de  30  anos),   masculino com história de IRC e, de doentes com história
          verificamos que em 83% (5/6) dos casos o transplante   familiar de doença renal em irmãos ou familiares do
          ocorreu antes dos 40 anos de idade, estando de acordo   lado materno, que evidenciem PA neuro-sensorial nas
          com a literatura. (Tabela 3)                      frequências  agudas,  o  médico  otorrinolaringologista
          A avaliação audiométrica demonstrou, em 86% dos   deve suspeitar desta entidade clínica. A colaboração do
          casos (6/7), uma PA neuro-sensorial simétrica, com   geneticista é fundamental para a identificação do tipo de
          atingimento  nas  frequências  agudas,  característica   hereditariedade, para a orientação quanto aos exames
          desta doença.  A PA nunca está presente logo após o   de investigação genética disponíveis para determinar a
          nascimento e, geralmente, torna-se sintomática antes   mutação, bem como, para o aconselhamento do doente



                                                                                       VOL 51 . Nº2 . JUNHO 2013 99
   28   29   30   31   32   33   34   35   36   37   38