Page 30 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 48. Nº3
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das  queixas  nasais.  Negava  hipoacusia  apesar  de  ter   A restante observação ORL, realizada com luz frontal,
          tido  alguns  episódios  de  otite.  Referia  episódios  de   verificava-se membranas timpânicas baças, hiperemia
          infecções  respiratórias  baixas  não  complicadas,  cerca   e edema de mucosa nasal, amígdalas normotróficas e
          de 3 por ano.                                     palato ogival.
          Evoluiu  com  agravamento  progressivo  da  obstrução   Solicitámos  audiometria  tonal  e  timpanograma  que
          nasal, com roncopatia, diminuição da qualidade do sono   revelaram limiares tonais sem alterações e curva tipo
          com períodos de apneia. Na sequência destas queixas,   C bilateral.
          aos 4 anos de idade foi submetido a adenoidectomia.   Solicitado  Teste  do  Suor  que  foi  positivo  em  três
          Manteve as queixas após a intervenção cirúrgica, com   amostras diferentes e com a utilização de dois métodos
          má qualidade de vida que a mãe atribuía a obstrução   distintos.  Pelo  método  conductimétrico  obtivemos
          nasal  crónica.  Sem  outras  queixas,  nomeadamente,   dosagem de cloreto de sódio igual a 127mmol/L (valores
          diarreia  ou  vómitos;  sem  alteração  do  crescimento  e   positivos  superiores  a  90mmol/L).  Pelo  método  da
          desenvolvimento.                                  potenciometria directa obtivemos dosagem de cloreto
          Dos  4  aos  7  anos  recorreu  a  diversos  especialistas:   igual  a  124mmol/L  e  de  sódio  igual  a  114mmol/L
          otorrinolaringologistas,  alergologistas  e  pediatras.   (valores positivos superiores a 60mmol/L).
          Realizou  testes  de  sensibilidade  cutânea  e  dosagem   Hemograma e bioquímica sem alterações.
          sérica  de  IgE  específica  para  alergenios  inalados  e   Radiografia simples de tórax sem alterações.
          alimentares os quais foram todos negativos. Submetido   Tomografia computorizada dos seios perinasais revelava
          a diversos tratamentos medicamentosos, que incluiram   alterações  compatíveis  com  polipose  nasosinusal
          antibióticos,  antihistaminicos,  corticóides  (sistémicos   difusa, com sinais de osteite etmoido-nasal. (figura 2)
          e/ou tópicos), sem qualquer melhoria.
          Aos  7  anos  de  idade  recorreu  ao  Serviço  de  ORL
          de  Hospital  Garcia  de  Orta  com  a  sintomatologia
          anteriormente referida.
          Realizámos  rinoscopia  endoscópica  com  endoscópio
          flexível pediátrico, tendo-se observado em ambos  os
          meatos  médio,  “algumas  massas”    com  as  seguintes
          características:  superfície  lisa,  regular,  coloração
          homogénea,  branco-acinzentada,  consistência  elástica,
          edematosa, não sangrativa. Estas lesões eram macrosco-
          picamente  sugestivas  de  polipos  nasais.  Além  das
          lesões  anteriormente  descritas  o  doente  apresentava
          secreção  nasal  espessa,  de  coloração  esbranquiçada,
          abundante.  Não  observámos  hipertrofia  de  tecido
          linfóide da rinofaringe. (figura1)

                                                            Figura 2

                                                            Foi  solicitado  ao  Instituto  Ricardo  Jorge  estudo
                                                            genético,  que  pesquisou  várias  mutações  genéticas
                                                            no  gene  CFTR,  associadas  a  Fibrose  Quistica.  No  seu
                                                            conjunto  as  mutações  pesquisadas  constituem  cerca
                                                            de  92,7%  das  mutações  genéticas  associadas  à  esta
                                                            doença  na  população  portuguesa.  O  nosso  doente
                                                            é  heterozigótico  para  a  mutação  G542X,  tendo  um
                                                            genótipo  G542X/N  (sendo  N  um  gene  normal  para  a
                                                            mutação pesquisada).
                                                            Antecedentes  familiares  irrelevantes,  nomeadamente
                                                            sem história de fibrose quística.
                                                            Submetido a microcirurgia endoscópica nasal: polipectomia,
          Figura 1                                          antrotomia media e etmoidectomia anterior bilaterais
                                                            em julho de 2009. O resultado da Anatomia Patológica



     144 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL
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