Page 63 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 44. Nº2
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PIRES, JOANA; L OPES, GUSTAVO; NOGUEIRA, PATRÍCIA; OLIVEIRA, NUNO; TRIGUEIROS, NUNO; MAIA GOMES, A.





         CASO CLÍNICO                                           Após esse período observou-se uma acentua-
                                                             da  melhoria  em  termos  de  qualidade  vocal:
            Doente  de  33  anos,  sexo  feminino,  cauca-   intensidade adequada, voz mais aguda, apre-
          siana, empregada têxtil, recorre ao Serviço de     sentando menos ataques glóticas.
          Urgência do Hospital  Pedro Hispano em  Maio          À laringoscopia indirecta e fibroscopia  já se
          de 2004, por disfonia.                             observava  uma  mobilidade  normal  de ambas
            Referia  que em  Março de 2004 começou  a        as  CY,  sem  espasmo e com encerramento glóti-
          denotar alterações progressivas da voz, e, após    co adequado.
          discussão violenta houve um  período de afonia.
            Desde  essa  altura  a  doente  queixa-se  de
          rouquidão, de esforço e fadiga ao falar, que se    DISCUSSÃO
          agrava com o decorrer do dia, e durante perío-
          dos prolongados de conversação.                       A  Disfonia  Espasmódica  é  definida  como
            Menciona  que  em  2003  teve  um  episódio      uma  forma  de  distonia  idiopática  que  exibe
         de afonia que durou aproximadamente 4 dias,         manifestações  focais .
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         mas do qual recuperou.                                 Entenda-se  como  distonia  um  síndrome  de
            Os antecedentes patológicos e familiares da      contracções musculares incontroláveis e susten-
         doente eram  irrelevantes.                          tadas.
            Ao  exame  objectivo  de  ORL  existia  uma         São outros exemplos de distonias focais idio-
         acentuada descoordenação pneumofonoarticu-          páticas,  o  torcicolo  espasmódico,  blefarospas-
                                                                 11
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         latória.                                            mo,  cãibra do  escritor e  distonias do tronco
                                                                    3
            Apresentava  uma  fonação  intermitente,  for-   e  do  pé .
                11
         çada,  sufocada  11 ,  com  espasmos  fonatórios,      Os pacientes com o diagnóstico de distonia
         quebras de intensidade e vozeamento.                são classificados de acordo com a etiologia da
            Intensidade reduzida.                            doença:
            As alterações da voz observam-se durante a            primária (ou idiopática)
         fonação voluntária mas diminuíam com o canto.            secundária (traumatismo durante o parto,
            A  motricidade  orofacial  não  demonstrava           doença  neurológica,  traumatismo crânio-
         alterações.                                              -encefálico,  exposição a  drogas).
            À laringoscopia  indirecta  e  fibroscopia ob-
                                                                       3
         servava-se  uma  hiperadução irregular das cor-       Aronson subdivide a  DE  em  dois grupos:
         das vocais  (CY).                                        Disfonia Espasmódica de Adução (DEAD),
            O  exame  neurológico  e  TC  cerebral  eram          causada  por  uma  hiperadução  irregular
         normais.                                                 das CY.
            A  doente foi  submetida a  sessões  semanais         Disfonia Espasmódica de Abdução (DEAB),
         de Terapia da Fala não tendo havido melhorias            causada  por  uma  abdução  intermitente
         significativas.                                          de ambas as  CY.
            Foi  submetida  a  tratamento  com  Toxina
         Botulínica do tipo A, injecção bilateral de 3,75      A  DEAD  é responsável  por 80% dos casos
                                                                                               5
         U de Dysport®,  ao nível do  músculo TA.           de disfonia espasmódica.
            Como  era esperado,  nas  primeiras duas se-       A causa  exacta da distonia permanece des-
         manas  após  o  tratamento  houve  uma  agrava-    conhecida.
         mento  da  sintomatologia,  diminuição  do  vo-       Em alguns doentes,  pensa-se que possa exis-
         zeamento,  aumento  da disfonia  e soprosidade     tir algum  componente genético associado.
         acentuada.                                            Blitzer num estudo de  199 1 revela que 1  2, 1  % 3


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