Page 8 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 48 Nº4
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de  transmissão  na  otosclerose,  a  cirurgia  estapédica   pós-operatório,  o  primeiro  realizado  após  a  cirurgia,
          estabeleceu-se  como  tratamento  de  primeira  linha   incluído  num  período  máximo  de  1  ano.  Calculou-
          para estes pacientes. As taxas de sucesso descritas na   -se  o  gap  aero-ósseo  (AO)  pré  e  pós-operatório,
          literatura variam amplamente de 45% a 97%, situando-  determinados pela subtracção do valor do limiar tonal
          -se, no entanto, na maior parte dos casos entre os 85%   médio (LTM) da via aérea (VA) ao valor do LTM da via
          e 95%.                                            óssea (VO). O ganho auditivo foi determinado através
          O objectivo deste trabalho foi o de avaliar os resultados   da  subtracção  do  gap  AO  pós-operatório  ao  gap  AO
          das estapedectomias realizadas no Hospital Fernando   pré-operatório. Foram considerados casos de sucesso
          Fonseca.  Foram  utilizados  como  indicadores  de   aqueles  que  resultaram  num  gap  AO  pós-operatório
          sucesso  os  resultados  audiométricos,  estando  outros   ≤10 dB. Como medida do fenómeno de overclosure ou,
          indicadores excluídos do âmbito deste estudo.     por outro lado, de deterioração iatrogénica da audição,
                                                            utilizou-se o cálculo da alteração da VO nas frequências
          MATERIAL E MÉTODOS                                altas determinado através da diferença entre o LTM da
          Analisaram-se retrospectivamente os processos clínicos   VO nas frequências 1, 2 e 4 kHz no pré-operatório e no
          dos  doentes  submetidos  a  cirurgia  estapédica  no   pós-operatório.
          Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Fernando
          Fonseca entre Janeiro de 2001 e Dezembro de 2005. De   RESULTADOS
          entre as 127 cirurgias realizadas, 14 tinham os registos   A tabela 1 mostra os dados demográficos da população
          inacessíveis e outras 14 foram excluídas por se tratarem   estudada.  Do  total  de  99  ouvidos  operados,  70
          de  cirurgias  de  revisão  ou  por  conterem  registos   correspondiam a pacientes do sexo feminino e 29 do
          considerados   insuficientes.   Consequentemente,   sexo  masculino.  Foram  operados  54  ouvidos  direitos
          reuniram-se  99  ouvidos  operados,  correspondendo   e 45 ouvidos esquerdos, tratando-se em 12 casos do
          a  87  pacientes,  que  constituiram  o  objecto  do  nosso   segundo ouvido. A idade à data da cirurgia variou de
          estudo.                                           25 a 70 anos, com uma média de idade de 44,5 anos.
          Na  maioria  dos  casos  foi  utilizada  a  mesma  técnica   TABELA I
          cirúrgica básica, sob anestesia geral e por uma via de   Dados demográficos da população estudada.
          abordagem  transcanalar.  Sintetizando  os  passos  mais   Sexo       29 Homens, 70 Mulheres
          relevantes  da  técnica,  procedeu-se  sistematicamente   Idade média, anos  44,5 (25-70)
          à  verificação  da  fixação  do  estribo  e  mobilidade  do
          martelo e bigorna, medição da distância entre a longa   Lateralidade  45 Esquerdo, 54 Direito
          apófise  da  bigorna  e  a  platina,  realização  do  orifício   LTM VA  58,6 dBHL (δ 15,5 dBHL)
          de  segurança  na  platina,  desarticulação  incudo-  LTM VO          30,1 dBHL (δ 11,7 dBHL)
          estapédica,  secção  do  tendão  do  músculo  do  estribo   VO AF (1, 2, 4 Hz)  31,2 dBHL (δ 12,7 dBHL)
          e  remoção  da  super-estrutura  do  estribo.  Proseguiu-
          se  com  a  remoção  da  porção  pretendida  da  platina   dB- decibéis hearing level; δ- desvio padrão; LTM- limiar tonal
                                                            médio; VA- via aérea; VO- via óssea; VO AF- via óssea nas
          com  microgancho  (habitualmente  metade  ou  terço   frequências altas.
          posterior),  selagem  da  janela  oval  na  maioria  dos
          casos com pericôndrio do tragus, e colocação do piston   TABELA 2
                                                            Detalhes do procedimento cirúrgico.
          fluoroplástico de Causse, cortado na medida desejada.   Anestesia     100% Anestesia geral
          Foram seguidas as Guidelines do Comité de Audição e
          Equilíbrio para a Avaliação de Resultados e Tratamento   Abordagem    93% Transcanalar
                                                                                7% Endaural Schambaugh
          da Hipoacúsia de Condução . No entanto, não estavam
                                 1
          disponíveis na maioria dos casos os limiares tonais a   Remoção da platina  89% Parcial
                                                                                11% Total
          3000 Hz pelo que se utilizou, em todos os pacientes,
          o  limiar  tonal  (LT)  a  4000  Hz.  Os  dados  recolhidos   Selagem janela oval  96% Pericôndrio
                                                                                4% Spongostan®
          foram: sexo, idade à data da cirurgia, ouvido operado,   Prótese      100% Piston fluoroplástico de
          alguns  detalhes  do  procedimento  cirúrgico  (como                  Causse
          extensão  da  platinectomia,  material  de  selagem  da
          janela  oval,  tipo  de  prótese  utilizada,  complicações   As cirurgias foram realizadas por 9 cirurgiões distintos,
          ou  achados  intra-operatórios),  e  ainda  os  dados   incluindo  4  internos.  Os  achados  no  intra-operatório
          audiométricos. O audiograma pré-operatório utilizado   que ficaram registados incluem: Nervo facial deiscente
          foi o último realizado antes da cirurgia e o audiograma   (2/99),  nervo  facial  sobre  a  janela  oval  (2/99)  e



     178 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL
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