Page 58 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 48 Nº4
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estômago. Foi colocada sonda nasogástrica durante 5 dias. Referências bibliográficas
O pós- operatório foi satisfatório e sem sinais de lesão das 1.Miller R, Willging J, Rutter M, Rookkapan K. Chronic esophageal
paredes esofágicas. A criança ingeria alimentação sólida sem foreign bodies in pediatric patients: a retrospective review. Int J Pediatr
qualquer dificuldade. Teve alta 7 dias depois da extracção Otorhinolaryngol 2004;68:265-72.
da moeda. Duas semanas depois voltou ao controle e não 2.Sheen T-S, Lee S-Y. Complete esophageal stricture resulting from a
referia qualquer dificuldade para se alimentar. O Rx do tórax neglected foreign body. Am J Otolaryngol. 1996;17(4):272-5.
do controle não mostrava qualquer alteração. 3.Verma P, Gaur A, Singhal A. Neglected foreign body in oesophagus with
an unusual presentation: a case report. Ind J Otolaryngol Head Neck
DISCUSSÃO Surg2006;58 (1).
A ingestão de corpos estranhos não é rara nas crianças.
Os sinais e sintomas de apresentação variam desde
asfixia, sialorreia, vómitos, disfagia e odinofagia, até total
ausência de sintomas, nos estadios iniciais. Para os doentes
assintomáticos, o diagnóstico não é fácil, a menos que haja
história de ingestão. 2
Os corpos estranhos crónicos do esófago estão associados
a uma grande morbi-mortalidade nos adultos. No entanto,
a apresentação, a conduta e os resultados na criança não
estão bem descritos. 1
O presente artigo mostra a importância que deve ser dada
pela comunidade médica às complicações da presença
de um corpo estranho crónico na via digestiva. Este caso
foi mal conduzido na periferia, onde não foi feito nenhum
exame imagiológico e por ter sido dada alta, medicada com
um laxante e vigilância das fezes, a uma criança com uma
moeda encravada no esófago e que na altura tinha mínimos
sintomas gastrointestinais (disfagia) e nenhum sintoma
respiratório. Este paciente deveria ter sido enviado logo para
um hospital com condições para a sua extracção.
O estridor, foi o sinal que fez a família da criança procurar
novamente os Serviços de Saúde. Este estridor resultou
da compressão laríngea como consequência do edema do
esófago o que impediu a retirada do corpo estranho na
primeira tentativa por via endoscópica.
A estenose esofágica como complicação de corpo estranho
no esófago é mencionada nos livros de texto e na literatura
2
médica, mas são poucos os casos reportados. No entanto,
em todas as crianças com história de disfagia, deve-se
suspeitar de presença de corpo estranho. 3
Os sintomas respiratórios como consequência da presença
de um corpo estranho crónico do esófago são mais
comuns do que os gastrointestinais em crianças com corpo
1
estranho crónico do esófago. Nesse caso clínico, o doente
só apresentou sintomas laríngeos seis meses depois da
ingestão da moeda.
Nestes casos recomenda-se que a extração do corpo
estranho seja feita com esofagoscópio rígido. Uma pequena
parte dos doentes necessita esofagotomia para a sua
extracção. 1
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