Page 8 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 60. Nº2
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abordagem cirúrgica e o enxerto escolhidos dependeram a timpanoplastia ipsilateral (14,8%) ou contralateral
das alterações encontradas e/ou da experiência do (10,9%), adenoidectomia (11,2%), septoplastia (9,3%)
cirurgião, sendo que a técnica underlay foi realizada em e miringotomia com ou sem colocação de tubos
todos os casos. de ventilação (6,8%). 55 intervenções (15%) foram
O sucesso anatómico correspondeu à integridade realizadas na presença de perfuração timpânica bilateral.
da plastia na última consulta, com um período de 182 procedimentos (49,7%) foram à direita e 184 (50,3%)
seguimento mínimo de 3 meses após a cirurgia. à esquerda. Em relação à localização, foram registadas
Foi calculado o GAO através da diferença entre a média 129 perfurações anteriores (35,2%), 115 subtotais
aritmética dos limiares tonais das vias aérea e óssea, nas (31,4%) e 96 posteriores (26,2%). Em 26 dos processos
frequências de 0.5, 1, 2 e 4 kHz. O sucesso funcional foi não constava a localização da perfuração. A grande
definido por um GAO pós-operatório <20dB. Foi registado maioria das perfurações era do tipo central (93,7%), 18
ainda o Speech Reception Threshold (SRT) pré- e pós- eram do tipo marginal e 5 não foram classificadas nos
operatório. O sucesso funcional não foi calculado em registos. De acordo com a classificação de Portmann, a
todos os casos por registos audiométricos insuficientes. timpanoplastia tipo I foi a cirurgia mais realizada (94,8%),
A análise estatística foi realizada através do programa sendo que a tipo II foi realizada em 4,4% dos casos e a tipo
IBM® SPSS® Statistics (versão 26). III em apenas 0,8%. A via de abordagem mais frequente
foi a retroauricular em 90,7% dos casos, seguida da via
RESULTADOS transcanal em 8,8% e da endaural em apenas 0,5%.
Foram incluídos 366 procedimentos, sendo que Globalmente, a fáscia temporalis (FT) foi o enxerto mais
48 doentes foram submetidos a mais do que uma utilizado (66,9%), o pericôndrio com cartilagem tragal
intervenção durante o período estudado, em tempo (PCT) foi escolhido em 30,6% das cirurgias e em 2,5%
cirúrgico diferente. foi realizado um enxerto de FT + cartilagem da concha
A maioria dos procedimentos foi realizada em doentes do (CC). Foram realizadas 54 cirurgias de revisão, sendo que
sexo feminino (62,8%). A idade média à data da cirurgia nestes procedimentos o enxerto de PCT foi mais utilizado
foi de 31,8 (±14,5) anos, variando entre os 8 e os 70 anos. do que o enxerto de FT (51,9% vs 38,9%, respetivamente).
14,2% dos doentes tinham idade <18 anos. O tempo de seguimento variou entre os 3 meses e os 10
Em 103 dos procedimentos havia antecedentes de uma anos. A maioria (65,6%) apresentou, no mínimo, 1 ano
ou mais cirurgias de ORL, sendo as mais frequentes de seguimento.
TABELA 1
Taxas de sucesso e insucesso da amostra estudada
Integridade da plastia GAO > 20dB Integridade da plastia + GAO > 20dB
n (%) n (%) n (%)
Sucesso 295 (80,6) 268 (77,7) 234 (67,8)
Insucesso 71 (19,4) 77 (22,3) 111 (32,2)
Nº absoluto 366 345 345
TABELA 2
Sucesso da timpanoplastia de acordo com as características e antecedentes dos doentes
Sucesso anatómico Sucesso funcional
Variável Categorias Valor de p Valor de p
n (%) n (%)
Feminino 184 (80) 161 (73,5)
Sexo p=0,705 p=0,014
Masculino 111 (81,6) 107 (84,9)
<18 anos 43 (82,7) 43 (84,3)
Idade p=0,681 p=0,218
≥18 anos 252 (80,3) 225 (76,5)
Perfuração Sim 42 (76,4) 38 (74,5)
contralateral Não 253 (81,4) p=0,389 230 (78,2) p=0,556
Sim 23 (92) 20 (87)
Miringotomia p=0,134 p=0,266
Não 272 (79,8) 248 (77)
Sim 32 (78) 33 (86,8)
Adenoidectomia p=0,661 p=0,151
Não 263 (80,9) 235 (76,5)
Sim 25 (73,5) 19 (63,3)
Septoplastia p=0,274 p=0,048
Não 270 (81,3) 249 (79)
84 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO