Page 10 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 60. Nº2
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entre as últimas duas localizações (p=0,024). Um GAO par com outras publicações 15,16 . Já em relação às
<20dB foi obtido em 82,1% das perfurações anteriores, perfurações subtotais, os resultados anatómicos foram
81,1% das posteriores e 70,6% das subtotais (p=0,076). estatisticamente inferiores aos das posteriores o que
As taxas de sucesso das perfurações marginais foram vai ao encontro de outros trabalhos publicados 1,12,18 . As
inferiores às das perfurações centrais, contudo não razões apontadas, na literatura, para uma maior taxa
houve significância estatística (p>0,05). (Tabela 3) de sucesso nas perfurações posteriores são a melhor
Apesar da taxa de integridade da plastia ter sido superior visualização dos limites da perfuração, maior facilidade no
nas timpanoplastias tipo I (81,3% vs 68,8% e 66,6% posicionamento do enxerto e uma melhor vascularização
nas tipo II e III, respetivamente), não houve diferença dos quadrantes posteriores.
estatisticamente significativa (p=0,385). Em relação à taxa Estudos referem que a técnica underlay nas perfurações
de sucesso audiométrico, foram encontradas diferenças marginais apresenta taxas mais elevadas de insucesso .
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estatisticamente significativas entre as timpanoplastias Apesar de, neste estudo, as perfurações centrais terem
tipo I (80,7%) e as tipo II (31,3%) ou tipo III (0%) (p<0,001). tido taxas de sucesso superiores, essa diferença não foi
Os diferentes tipos de enxerto não apresentaram taxas estatisticamente significativa.
de sucesso anatómico com diferenças estatisticamente O estado da cadeia ossicular aparentou influenciar os
significativas (p=0,554). resultados audiométricos desta amostra, uma vez que as
Avaliando o sucesso audiométrico, este foi obtido em 82% timpanoplastias tipo II e III apresentaram menor taxa de
dos casos onde foi utilizado enxerto de FT, 70,4% dos com sucesso funcional, tal como descrito noutros estudos 5,19 .
PCT e em 55,6% dos enxertos de FT + CC. Encontrou-se A escolha da via de abordagem teve em conta as
uma diferença estatisticamente significativa na utilização características da perfuração e a experiência do cirurgião,
de FT quando comparada com PCT (p=0,043). (Tabela 4) não apresentando entre si diferenças estatisticamente
significativas. Já em relação ao tipo de enxerto utilizado,
DISCUSSÃO apesar de vários artigos referirem que a cartilagem tragal
Nesta amostra, as taxas de sucesso anatómico e funcional apresenta resultados anatómicos superiores à FT 7,20,21 , na
foram sobreponíveis às descritas noutras publicações nossa amostra a integridade da plastia foi atingida numa
nacionais e internacionais . proporção semelhante. Pelo contrário, a utilização de
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8,9
Vários estudos têm-se dedicado à discussão dos fatores CPT influenciou negativamente o sucesso funcional de
que podem influenciar o sucesso da timpanoplastia. forma estatisticamente significativa, em conformidade
Contudo, os resultados são controversos, provavelmente com estudos que referem que a espessura do enxerto
pela variabilidade de critérios de seleção e de definições pode influenciar a audição 21,22 . As cirurgias de revisão
de sucesso. apresentaram taxas de sucesso semelhantes às cirurgias
Os doentes do sexo feminino obtiveram piores resultados primárias, como no estudo de Dornhoffer (2003) .
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auditivos em relação aos do sexo masculino. Essa Lesinskas et al descreve diferenças estatisticamente
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diferença foi estatisticamente significativa, ao contrário significativas no sucesso audiométrico, apesar do
de outras publicações em que o sexo não teve impacto no encerramento da plastia apresentar proporções
sucesso cirúrgico 3,10 . Não foi encontrada justificação para semelhantes.
essa diferença, uma vez que os dois grupos apresentaram Os subgrupos de doentes com antecedentes de
características semelhantes. Em relação aos resultados miringotomia ou de adenoidectomia não apresentaram
anatómicos, não houve diferença estatisticamente resultados com diferenças estatisticamente significativas.
significativa. Contudo, os doentes previamente submetidos a
Os resultados dos doentes com idade inferior a 18 anos septoplastia apresentaram taxas de sucesso audiométrico
não foram estatisticamente diferentes aos dos adultos, estatisticamente inferiores, o que poderá ir de acordo
estando de acordo com vários estudos publicados 3,11,12 . com estudos recentes que não recomendam a realização
Contudo, a recente meta-análise de Tan et al concluiu rotineira de septoplastia, previamente à timpanoplastia,
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que a timpanoplastia em doentes pediátricos apresenta em doentes com desvio septal .
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uma taxa de insucesso superior em 5,8% à dos adultos. Este estudo apresenta as limitações inerentes a uma
A lateralidade da perfuração não teve impacto no êxito análise retrospetiva. Várias condições com potencial
cirúrgico, em concordância com outros estudos . interesse para este estudo não foram analisadas,
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Os doentes com perfuração contralateral apresentaram devido ao elevado número de valores omissos (estado
resultados semelhantes aos dos restantes doentes, em da mucosa, miringosclerose, tamanho da perfuração,
concordância com outros estudos que avaliaram o estado estrato sócio-económico, escolaridade, entre outros).
do ouvido contralateral 12-15 . Porém, existem estudos com As timpanoplastias foram realizadas por diferentes
informações discordantes 3,16 . cirurgiões, pelo que a decisão sobre a via de abordagem,
Apesar de vários estudos concluírem que as técnica cirúrgica e tipo de enxerto, pode ter variado
perfurações anteriores têm menor sucesso anatómico conforme a sua experiência. O tempo de seguimento
que as posteriores 1,12,13,17 , na amostra estudada não foi heterogéneo e os resultados foram aferidos em
houve diferenças estatisticamente significativas, a momentos diferentes entre os doentes, o que poderá
86 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO