Page 21 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 61. Nº4
P. 21
com prescrição médica e pedido de apoio destas com aparelhos de amplificação
social. Numa condição com tanto impacto nas sonora individuais contribuem para um
condições de vida e saúde destes doentes esta maior número de “más experiências” e
percentagem é, de facto, demasiado elevada consequente falta de adesão. No Reino Unido,
para um país desenvolvido como Portugal. os aparelhos auditivos ainda são classificados
Segundo uma revisão sistemática, o estigma como dispositivos médicos Classe IIa (médio
é percebido como um fator importante nas a baixo risco) e regulamentado pela Agência
atitudes e opiniões das pessoas em relação à Reguladora de Medicamentos e Produtos
deficiência auditiva e à reabilitação com PA . de Saúde. Os aparelhos auditivos são
14
De facto, segundo o nosso estudo, 18% referiu disponibilizados pelo Serviço Nacional de
não usar PA por “questões estéticas/vergonha”, Saúde (SNS) devido a esta classificação. A
sendo a maioria do género feminino (80%). vantagem é que os aparelhos auditivos como
Por outro lado, 19% responderam “ainda não dispositivos médicos fornecidos pelo SNS são
preciso”, apesar de existir essa indicação e de gratuitos, assim como as pilhas, reparações
muitas vezes os familiares referirem o contrário. e consultas de seguimento. No entanto, o
Portanto, uma grande percentagem destes tempo de espera torna-se bastante elevado .
16
doentes não estará a usar PA pelo estigma a Com o aumento da esperança média de vida é
estas associado. Dezassete por cento assinalou essencial possibilitar às pessoas mais idosas o
“má experiências de amigos ou familiares”. De acesso a um tratamento com uma contribuição
facto, verifica-se ainda uma grande invasão tão significativa para a sua qualidade de
das diferentes áreas de actuação do Técnico vida. Assim, compete essencialmente aos
de Audiologia por pessoas não qualificadas médicos de Otorrinolaringologia, médicos
academicamente para tal, especialmente a de Medicina Geral e Familiar e Audiologistas
nível de intitulados centros de reabilitação alterar o estigma de desvalorização dos
auditiva, onde apenas se efectua a venda benefícios das PA. É importante sensibilizar
a retalho de PA – por falta de legislação e os doentes e todos os profissionais de saúde
regulamentação de venda como produtos de do impacto positivo destes aparelhos quando
saúde. Assim, são muitos os doentes que ao corretamente adquiridos e adaptados,
tentar diminuir a sua despesa económica com permitindo uma melhor comunicação com
as PA, acabam por ter uma má experiência, os seus familiares e amigos, manter as suas
generalizando esta falta de eficácia para todos capacidades cognitivas e um bem-estar
os tipos de PA e contribuindo para a ideia psicológico essencial para uma boa qualidade
errada da ineficiência destes dispositivos. de vida. É ainda essencial alertar para falta
Recentemente, em Agosto de 2022, a Food de condições económicas da população
and Drug Administration (FDA) permitiu portuguesa e para a lacuna de apoio social
a aquisição de PA sem receita nos EUA, numa doença que afeta uma percentagem
permitindo a consumidores com mais de 18 muito significativa da população e que
anos com perceção de perda auditiva obter aumenta o risco de outras patologias como
PA diretamente em lojas sem necessidade depressão, ansiedade e demência.
de exames, prescrição ou adaptação por Este estudo teve como principais limitações
audiologistas. Esta medida teve como objetivo ter sido restrito a uma unidade hospitalar, os
aumentar a competição na indústria para que questionários relativamente ao período pré
haja uma diminuição dos preços das PA . No e pós utilização de PA terem sido realizados
15
entanto, apesar de ser importante aumentar no mesmo tempo cronológico, a ausência de
a competição na indústria de modo a baixar avaliação do grau de hipoacusia dos doentes
os preços, é também necessário um maior e o facto de ser uma avaliação subjetiva
controlo da qualidade das PA vendidas, pois (qualidade de vida).
a má qualidade/adaptação e a confusão
Volume 61 . Nº4 . Dezembro 2023 359