Page 8 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 51. Nº2
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que se caracteriza por outros sintomas, tais como questionário baseado no “Índice de Congestão Nasal” 6
hidrorreia, hipósmia, esternutos e/ou prurido nasal, e aplicado no primeiro e último dias do estudo, para
com interferência no sono e actividades da vida diária determinação da evolução das eventuais queixas nasais
e consequente diminuição dos índices de qualidade de (tabelas 1 e 2).
vida do doente .
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Esta questão – o desenvolvimento ou agravamento da TABELA 1 e 2
obstrução nasal por congestão vascular (e a respectiva Questionário de obstrução nasal. Branco-Ferreira M et al;
morbilidade associada) – reveste-se de especial importância “Congestão nasal em Portugal – epidemiologia e implicações”;
quando consideramos os mergulhadores profissionais, Rev Portug Otorrinolaring e Cirurg Cérv-Fac 2008; 46(3): 151-
sujeitos diariamente a grandes variações das condições 160.
ambientais, pela maior exposição (diária) ao mergulho. Numa escala de 1 a 5, em que 1 = nunca; 2 = raramente;
E de maneira mais premente, se abordarmos o mergulho 3 = algumas vezes; 4 = a maior parte do tempo;
profundo (a profundidades iguais ou superiores a 70 e 5 = sempre, responda se, nas últimas duas semanas,
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metros) , caracterizado por condições ambientais alguma vez:
extremas. A ausência de estudos in vivo destes 1. Teve o nariz entupido/congestionado?
mergulhadores é uma lacuna importante, particularmente 2. Teve sensação de pressão/peso nos seios nasais ou dor
relevante quando se consideram mergulhadores militares na face?
profissionais, com maior número de horas de mergulho e 3. Sentiu os ouvidos obstruídos?
com realização concomitante de actividades de risco (tais
como missões de busca e salvamento, desmantelamento 4. Necessitou de respirar pela boca por não conseguir
de minas e outros explosivos, limpeza de substâncias respirar pelo nariz?
tóxicas), física e psicologicamente exigentes. 5. Teve dificuldades em ter cheiro?
Atendendo à inexistência de dados publicados sobre esta
problemática (seja a nível militar ou civil), à morbilidade 6. Teve dificuldades em descongestionar o nariz, mesmo
associada a esta patologia e ao eventual prejuízo no depois de se assoar diversas vezes?
desempenho profissional, com riscos para a missão e 7. Teve corrimento nasal (“pingo do nariz”)?
vida destes militares, considerámos pertinente avaliar a
repercussão no fluxo nasal do desempenho de missões 8. Teve dificuldades em trabalhar ou fazer alguma
em mergulho profundo. actividade devido aos sintomas nasais?
Neste contexto, efectuou-se um estudo visando:
1. Caracterização e quantificação da obstrução nasal Numa escala de 1 a 5, em que 1 = nunca; 2 = raramente;
dos mergulhadores militares, em função da realização 3 = algumas vezes; 4 = a maior parte do tempo;
diária de mergulhos profundos ao longo de uma e 5 = sempre, responda se, na última semana, alguma vez:
semana. 1. Acordou com o nariz obstruído?
2. Identificação de possíveis factores com influência na 2. Acordou com a boca seca e/ou sede?
variabilidade do fluxo nasal.
3. Acordou cansado, com a sensação de não ter dormido
bem?
MATERIAL E MÉTODOS
Efectuou-se um estudo prospectivo observacional 4. Ressonou à noite?
analítico, previamente submetido a aprovação pela
Comissão Ética do Hospital da Marinha e sujeito a Foi determinada objectivamente a variação do fluxo
consentimento informado por parte dos participantes no inspiratório máximo nasal (peak flow nasal – PF nasal),
estudo. através de dispositivos In-Check Nasal, da Clement-
A população-alvo definida foi a dos mergulhadores Clarke International®, munido de máscaras descartáveis.
militares do sexo masculino envolvidos no exercício As medições foram bi-diárias – sempre antes e após o
anual internacional Deep Divex, realizado ao largo de mergulho profundo – durante 7 dias de mergulho profundo
Portimão de 27 de Setembro a 8 de Outubro de 2010, seguidos, tendo-se rejeitado os valores do primeiro
provenientes de diversos países da NATO (Portugal, dia, considerado fase de aprendizagem e adaptação ao
Canadá, Bélgica, Noruega e Estónia). Foi programada aparelho (fulcral para a boa reprodutibilidade do PF, e o
a realização do estudo ao longo de oito dias seguidos aumento da sua validade e fiabilidade enquanto método
de mergulho profundo, entre 28 de Setembro e 6 de de estudo da obstrução nasal) 9-11 . Para efeitos do estudo
Outubro de 2010 (com interrupção nos dias 2 e 3 de e cálculo da variação diária do fluxo nasal, foi tido em
Outubro, correspondentes a fim-de-semana). conta o registo da média de três inspirações nasais antes
Foram avaliadas as variáveis demográficas, antecedentes e após mergulho, sendo considerados normais valores de
pessoais e profissionais enquanto mergulhadores, e PF superiores a 120 L/min .
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queixas subjectivas de obstrução nasal – por meio de Simultaneamente, foi efectuado um registo diário das
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