Page 6 - Revista SPORL - Vol 58. Nº2
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PEDRO TOMÉ
EDITORIAL
E agora? importante para uma especialidade que vive tanto
da aprendizagem “à mão” como a nossa em que é
O caso do agora não se põe porque o agora não é nem necessário ver, entender o porquê e praticar com crítica
nunca foi problema, porque, por definição, está já a próxima por parte dos formadores. Para ter noção desta
decorrer. dificuldade é rever o editorial escrito na revista da
SPORL CCP Vol 57 nº 4 em que internos em formação
O problema sempre foi o depois, porque é sobre ele que esclarecidamente dizem “o que aprendemos com este
é preciso decidir, programar iniciativas e evitar outros surto pode não compensar as perdas que tivemos na
“agoras” quando eles são menos do que bons. nossa formação, que são muitas” e “Perdemos estágios
já marcados ou que estavam a decorrer. Perdemos tempo
O agora é a crise pandémica e as suas consequências de bloco operatório. Perdemos tempos de consultas.
em termos de saúde da população, em termos da Perdemos formações, cursos, congressos. Perdemos, em
alteração dos hábitos e rotinas das pessoas, em termos muitos casos, a oportunidade de apresentar trabalhos
das alterações das relações sociais, em termos da que já estavam preparados.” Diria eu que perderam
atuação dos profissionais que tentam mitigar as suas e é necessário ajudar a recuperar porque perderam
consequências e também das dificuldades de formação fundamentalmente o que não se pode aprender na
desses profissionais. bibliografia nem nos cursos on-line. Perderam aquilo
que transforma um ramo do saber e do cuidar de uma
Reuniões científicas das várias sociedades nacionais têm quase ciência numa quase arte. É desta quase arte que
sido adiadas, como no caso das duas mais expressivas temos que nos ocupar de molde a que a formação dos
que aos otorrinolaringologistas interessam. Importa mais novos seja tão perfeita e profícua quanto possível
refletir sobre isto e é para isso que vos convido. para que num espírito interesseiro possamos dizer “nós
vamos precisar deles”.
As reuniões plenárias e as parcelares têm interesse
fundamental no evoluir do conhecimento médico O caso que aparentemente é fácil é o que diz respeito às
qualquer que ele seja. reuniões plenárias. Este problema é tão falsamente fácil
que é intransponível. Aquilo que poderá parecer simples
Se as parcelares e temáticas, pela sua menor frequência porque “ao fim e ao cabo isso dos congressos nacionais
e maior especificidade de conteúdo, são mais fáceis de mais não é que lugar em que os séniores nada fazem e
programar e ter bom rendimento por via não presencial, em que os juniores apresentam umas comunicações para
como é a tendência atual com o uso das tecnologias que consumo entre eles e para aporem mais umas linhas no
evitam a proximidade pessoal, naquelas que vivem da seu curriculum” é a meu ver um enorme equívoco. Se os
necessidade de contacto o problema põe-se agudamente. congressos nacionais são reuniões aparentemente pouco
Cursos de formação e estágios, que interessam profícuas porque nem sempre a frequência das sessões é
sobremaneira aos mais novos, estão fortemente tão numerosa quanto se podia desejar, e disso já todos
condicionados dada a necessidade de evitar o contacto os que os organizámos nos podemos queixar, a verdade
pessoal e as deslocações dos profissionais. Problema é que essas reuniões têm também outra função. Essa
54 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO

